Lembram dos blogueiros progressistas? São aqueles, já mencionados aqui, blogueiros governistas, que ganham em publicidade e contratos estatais e vivem defendendo tudo o que o governo faz. Não dá para dizer sequer que eles têm uma ideologia, pois não são necessariamente de esquerda, são apenas governistas.

Um dos mais famosos é o conhecido jornalista Paulo Henrique Amorim. Aquele que já foi da Globo e hoje está na Record. Esse sujeito mantém um site chamado Conversa Afiada. O site é só um conjunto de bobagens e ataques grosseiros contra os adversários do governo federal, especialmente contra José Serra.

Alguém vai logo gritar: “mas você também vive malhando o governo!!!”. Bater no governo não é um problema. O problema é mentir, ofender as pessoas, e, para um jornalista, escrever mal. E como escreve mal esse Paulo Henrique Amorim! Eu tentei encontrar argumentos, lógica, fatos, essas coisas com que todo jornalista ou colunista deve lidar. Mas não encontrei.

Essa semana, o tal sujeito assinou um acordo com o jornalista da Rede Globo Heraldo Pereira. Paulo Henrique, com raiva de Heraldo, disse, entre outras coisas, que ele seria um “negro de alma branca”. Foi acusado de racismo em uma ação penal e outra cível. Na última, fez acordo. Pagará R$30.000 a uma instituição de caridade e se retratará no seu site e em jornais.

A óbvia insinuação de Paulo Henrique Amorim foi tratada de forma vergonhosa pelos seus seguidores governistas na Internet. Essa gente não toma jeito! Vieram com uma virulência danada defender o inventor do PIG. Mas, afinal, Paulo Henrique foi racista? O que ele quis dizer com “negro de alma branca”?

Para mim, a opinião mais coerente sobre essas questões foi dada pelo colunista e blogueiro Reinaldo Azevedo. Ele disse que esse é um tipo de “racismo de segundo grau”. Assim se expressou Reinaldo:

“Quando se classifica alguém como Heraldo de “negro de alma branca” - e já ouvi cretinos a dizer a mesma coisa sobre Barack Obama porque também insatisfeitos com a sua pouca disposição para o ódio racial -, o que se pretende, na verdade, é lhe impor uma agenda. Atenção para isto:
- por ser negro, ele seria menos livre do que um branco, por exemplo, porque estaria obrigado a aderir a uma determinada pauta;
- por ser negro, ele teria menos escolhas, estando condenado a fazer um determinado discurso que os “donos das causas” consideram progressista;
- ao nascer, portanto, negro ele já nasceria escravo de uma causa.
Heraldo os ofende porque diz, com todas as letras e com sua brilhante trajetória profissional: “Sou o que quero ser, o que decidi ser, o que estudei para ser, o que lutei para ser. Eu escolho, não sou escolhido! Sou senhor da minha vida, não um serviçal daqueles que dizem querer me libertar”. Heraldo os ofende porque não precisa que brancos bem-pensantes pensem por ele”.

Reinaldo captou um problema típico dos racialistas e comunitaristas em geral. Eles acham que o que define o indivíduo é sua pertinência a um grupo. A comunidade é quem forma o indivíduo e, por isso, não existe indivíduo antes da comunidade. Assim, antes de ser um indivíduo, o sujeito é negro ou branco, mulher ou homem, homossexual ou heterossexual, e por aí vai.

Decorre daí que, quando o indivíduo não age como se pertencesse a esse grupo, as supostas lideranças desses grupos reclamam. É como se o membro do grupo quisesse sair da sua comunidade oprimida e virar membro da comunidade opressora, negando sua própria essência comunitária. O comunitarismo não deixa espaço para a escolha. O indivíduo é definido pela comunidade, assim, definidos os critérios do que significa pertencer a uma comunidade, o indivíduo não tem como escolher. No caso do negro não militante, seria uma tentativa de viver como se fosse um branco, o que é impossível. Por isso, o negro permaneceria negro, mesmo tendo a “alma branca”. As lideranças avisam, então, que não adianta lutar contra sua natureza comunitária. É asqueroso, mas é assim que os comunitaristas mais radicais em geral pensam. Ressalto que a coisa é toda bem amarrada teoricamente. Não é só um samba do hegeliano doido.

Heraldo Pereira, por ter a pele escura, deveria ser um negro de verdade. Defender cotas, falar em comunidade negra, participar de eventos para negros, negar a miscigenação, eventualmente até fazer parte de um desses famigerados “movimentos sociais”. O mesmo ocorre com o homossexual. Ele não pode esconder sua condição, sob pena de ter o desprezo de gente como Jean Wyllys, o ex-BBB sem votos que virou deputado. Ele tem que ir a paradas gay, escrever sobre sua condição, lutar pela causa, etc. Já que Heraldo Pereira não fez isso, decidiu trabalhar e vencer na vida como qualquer indivíduo comum, não vestiu a camisa “100% negro” e, portanto, merece o desprezo dos progressistas.

Os blogueiros progressistas abraçaram essa forma de ver o mundo... É a “nova esquerda”, que continua coletivista, mas a luta de classes é substituída pela luta de grupos. Por isso, os comunitaristas não querem acabar com as diferenças, querem reconhecê-las e, nesse caminho, conseguem perpetuá-las.

Paulo Henrique Amorim, sob o pretexto de ser contra o racismo, ofendeu um negro. Parece contraditório, mas não é. Quanto mais se fala em raça, mais ela continua importante e mais ela fundamenta o racismo. É isso que os blogueiros progressistas e seus seguidores não entendem.