Nasci folião.

Foi num 16 de fevereiro. Num domingo de carnaval.

Não escondo a idade. O ano foi o de 1969. Ou seja, lá se vão 43 fevereiros, e marços, de alegre e incontornável folia.

Assim vim ao mundo: voltado para a energia contagiante do carnaval, talvez a mais democrática e autêntica das manifestações de nossa brasilidade.

Que espetáculo! Que exuberância!

Que partilha! Que comunhão!

Que dizer da passista de frevo, do tambor do bloco afro, da ginga da mulata, da estupefação do gringo ou do corso de outrora...?

Carnaval brasileiro é sentimento de indescritível descrição, é paixão e entrega em sua mais carnal exibição não erótica.

É Vida que pulsa, que remexe e que requebra.

Talvez o fato de eu estar “umbilicalmente” ligado ao festejo tenha me proporcionado o imenso gosto que faço pela folia Momesca desde as minhas mais remotas lembranças.

Talvez a questão de ter eu vindo a este mundo sob o toque do tambor e o cetim da serpetina tenha me tocado tão inicial e profundamente que me converti, para sempre, em adepto da boa e saudável farra.

Confesso que a imagem do carnaval me comove.

Sinto-me inserido, brasileiro, cidadão no desfile lindo do Pinto da Madrugada.

A energia da Timbalada em Salvador me emancipa de meu corpo e me faz suspenso em felicidade.

A imagem monumental do Galo em Recife ou da Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro, representativas de um país grandioso e exuberante, ajudam-me a sentir ainda mais saudades a cada vez que estou numa pátria distante.

Não falo do mundano, do violento, do vulgar ou do indigno. Falo daquele carnaval que é o carnaval da ligação única que sentimos, em conjunto e em cadeia, quando toca a marchinha ou o axé, a freviola, o samba, o coco de roda e o maracatu...

Que tenhamos, como profetizou Caetano Veloso, “Muitos Carnavais”.

Eu espero ter ainda muitos, incontáveis.

Os quais, a cada fevereiro ou março, façam-me sentir tão ou mais humano, tão ou mais livre de amarras e de sentimentos ruins, tão ou mais aberto ao viver quanto naquele 16 de fevereiro de 1969.

Dia em que mais um folião nasceu.
 

 

 

Estou no @weltonroberto