Os búzios do Pai João não falhavam jamais.
Era o que dizia a lenda.
O canto era infalível!
Mas para o Minervino...
Xiiiiiii! Parecia que os orixás estavam em falta.
No final de 2010, Pai João jogou, e avisou:
- Vossuncê vai cunhecê uma galega qui vai ti inlouquicê e ti dá pressão mizifiu!
Janeiro se foi e nada. Carnaval, frevo e boi-bumbá. E o Minervino sem “papar” ninguém.
Semana Santa, Festas Juninas, Dia de Finados. E Minervino no “caritó”.
Dezembro, Natal ... dia 29, o estado pagou a “primeira faixa”, e Minervino contínuo da secretaria da Fazenda com bolso “estibado” e nada da galega aparecer.
Voltou no Pai João no dia 30, bem cedinho, indignado.
E ouviu do sacerdote:
- Vossuncê s’avéxe não mizifiu. É amenhã! Di noite, na hora du fógus. A galega vai aparecê! Num carrão, vai ti agarrâ a força, te apertá e te levá prum lugá quentin, com colxão nu xão e tudo mais, onde só fera habita, doida pra ti devorá!
Minervino, solteirão convicto, entendeu o recado.
Uiuiuiuiuiuiu!
Seria na queima de fogos da Ponta Verde. E a amada tinha carro, deveria de ser mulher independente, especialmente concursada, fogosa nas artes do amor, a sequestrá-lo para uma destas suítes “orientais” de motel de luxo lá para as banda de Jacarecica, com cama no chão que nem tatame de judô.
O galã passou o sábado, dia 31, inteirinho em infusão de alfazema. Saiu mais cheiroso que filho de barbeiro.
No cabelo, caprichou na “liberdade” e no gel, botou aquela camisa de tergal comprada na promoção da Casa Vieira e, sete da noite, pegou o Ponta Verde – Vergel sentido “uórrrrrla” de Maceió.
As 20 horas já estava em frente ao Maceió Mar Hotel.
Batendo ponto no calçadão, a esperar seu amor.
E passou de tudo: mulata, morena, sarará, preta retinta, branca inhame, albina, amarela.
E galegas, muitas galegas.
Mas nenhuma nem olhava para o garanhão da Sefaz.
E o machão aperreado.
Mas era só se apoquentar, para na memória surgir o babalorixá, mão grande e negra cheia de búzios a cantar, dizendo com voz grossa, que parecia vir dos céus, solene e com eco:
- Vossuncê s’avéxe não miziiiiiifiiiiiuuuuu..... Di noite, na hora du fóóóguuuus!
E a bendita hora chegou. Uma das maiores queimas de fogos de artifício que Maceió já vira. Um espetáculo pirotécnico único e inigualável, que durou uma infinidade.
Dois minutos e meio, trinta chuvinhas sincronizadas e uns 4 estalos bebés avantajados.
E nada da galega.
Os búzios falharam... Minervino era só desolação.
E aí ele chorou.
E se entregou à birita.
Mais um ano se passara e ele, de novo, não “papara” ninguém, nem no “rêvêión”, nem com promessa do santo afro.
Começou com cerveja na barraquinha de acarajé.
Terminou a noite com alteração, “bebo cego”, valentão dando no tiozinho do amendoim cozido.
Foi quando a profecia se concretizou.
Para buscar o “brabo acochado” que queira dar voadora no ambulante em plena festa de ano novo, chegou o carrão da Força Nacional.
Policiais “felicíssimos” por estarem às 4 da manhã tendo que apartar briga de "maloqueiro bêbado na orla", em pleno dia de ano.
Quem deu a primeira “tapona” e empurrou o Minervino para o “reservado” da viatura foi a tenente Laura “Rambo”, loirinha cedida pela PM do Acre, mais máscula que o Arnold Schwarzenegger, que “pulou” pela janela da viatura em cima do contínuo que nem acrobacia de filme de kung fu.
Na Central de Polícia, só “lorde inglês” instalado.
Minervino, chamando Jesus de Genésio de tão biritado, foi sacudido na cela número 3 junto com Tião “Tabica de Dar em Doido”, marginal magro, seco, fino, violentíssimo e requintado do Clima Bom; com o “Brother Stella Maris”, garotão “marombado” deliquente “filhinho de papai” malino residente na Jatiuca; e com o Marquinhos “Trinca”, cujo nome não precisava de justificativa.
No chão, um único colchenete fino, na cela fervente e abafada.
De fato, o canto dos búzios era infalível.
Sempre!
E o ano de 2012 para o Minervino começava com esta quitação da santidade nagô em cima do bonitão da Praça Moleque Namorador.
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