Brasília – A minha alucinação é suportar o dia a dia/
E o meu delírio é experiência com coisas reais.
Meu amigo “Tim Maia” não gostava do Belchior, muito menos da letra dessa música. Em tempo: “Tim Maia” era o apelido que colocamos num colega de infância lá no Bom Parto, depois funcionário concursado do Banco do Brasil.
Ele nos criticava porque ouvíamos os Beatles, os Roling Stone, Bob Dylan, Pink Floyd – tínhamos que ouvir, na concepção dele, músicas nacionais, MPB, músicas engajadas, músicas de protesto lá nos idos da década de 1970.
Besteira.
Belchior é mais que músico e poeta; é também profeta. As coisas que o saudoso amigo “Tim Maia” acreditava eram irreais e o nosso delírio, a nossa alucinação eram por coisas reais.
O”Tim Maia” lia “O Capital” e enaltecia as teorias – todas irreais – de Karl Marx. Um dia ele apareceu sustentando a tese do “capital fixo e o capital variável” e foi uma discussão, porque não existe capital fixo.
Todo capital é variável.
Infelizmente o “Tim Maia” não está mais entre nós; ele deu cabo à vida suicidando-se e até hoje nenhum dos seus amigos do Bom Parto, e todos com mais de 50 anos, não entende o motivo.
Mas, já que quis assim, parece-me ter sido melhor do que ter visto o comunismo que ele tanto pregava se desmoronar; do que ver a Cuba se abrir ao capitalismo forçado pela experiência real de que não há capital fixo e que a “mais-valia” é o que vale – o resto é empulhação de intelectual frustrado.
Dizer que a culpa do desmoronamento de Cuba é dos Estados Unidos, com o boicote econômico, só piora a situação.
Quer dizer, então, que o sucesso do comunismo em Cuba dependia do capitalismo dos Estados Unidos?!
Ah! Coitados...
É a mesma coisa que dizer que o sucesso do Candomblé depende das bênçãos do papa...
A rede Globo está exibindo o seriado sobre Cuba, no momento em que o governo cubano demite meio milhão de funcionários públicos – que são obrigados a viver agora como “capitalistas”.
É que não dava mais pra segurar...explode coração!
Belchior foi perseguido pela esquerdinha chinfrim, que alardeou ser ele “alcaguete” denunciando à repressão os comunistas do meio artístico.
Pura sacanagem, só porque o Belchior pensava por si; só porque o Belchior profetizava nas letras de suas músicas contrariando a irrealidade deles.
Não estou interessado em nenhuma teoria/
Em nenhuma fantasia/ Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto.../
A minha alucinação é suportar o dia-a-dia/
E o meu delírio é experiência com coisas reais/
O pior é que ainda tem gente que pensa o contrário, mas já entendi; esses não são reais e agem assim apenas porque lhes faltam coragem de preferir ser a metamorfose ambulante, e opta por ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Ah! Ia esquecendo: Fidel Castro proibiu os jovens cubanos de curtirem os Beatles e de viverem intensamente a década de 1960/70. Mas, quedou-se depois e autorizou a construção de uma estátua em Havana para dar nome a uma praça.
Praça John Lennon – o maior músico do século XX.
PS – Meus pêsames à família do jornalista e advogado José Sebastião Bastos, que era meu padrinho de batismo, ele e a irmã dele. Que Deus o conduza à vida eterna, no melhor lugar que possa existir.