Chegou para a ceia já prá lá de Belém.

Chegou, inclusive, com três reis magos e tudo mais, talvez carregados pelas renas de Papai Noel.

Sim, trouxe três a tiracolo, que entraram com ele na casa da família da esposa e, sem cerimônia, já foram “se chegando”.

A sogra Esmeralda “adorava” quando Tião aparecia "mamado" na casa da senhora, religiosíssima, mais devota que beata, mais beata que carola, mais carola que fundamentalista.

Ainda mais com três outros marmanjos, cachaceiros finos com certeza.

E logo na noite de Natal.

“Chester” assado, queijo do reino “Mineirão” suando e vermelho na mesa, “adega” cheia de “Quinta do Morgado” e de Espumante “Sidra”, a original, da maçãzinha.

Mas o Natal não era natalino sem a “presepada” do ano do Tião Noel.

Em 25 anos de casamento com a Esmeraldina, a filha, já havia acontecido de tudo: até “bundalelê” na hora do champanhe

Para desespero de seu Zuza, o sogro, sempre revoltado com o genro Tião, boca de alambique.

Contudo, para além do fato de surgido biritadíssimo na casa da sogra com três desconhecidos, Tião estava “lorde” no dia do nascimento do menino Jesus.

Cambaleando, chegou por volta de nove da noite. Ele, com os três entrando logo atrás.

Ele se sentou, tomou só uma garrafa e meia de “Mazile” “on the rocks”... assistiu ao especial do Roberto Carlos e à Missa do Galo, na íntegra.

Caladinho.

Já os três, famintos e sedentos, devoravam e bebiam tudo que viam pela frente.

Salpicão, batata palha, todo o arsenal de cerveja “litrão”, maionese e lasanha, nada da ceia passava despercebido. E como comiam, e como bebiam.

Não perdoavam nada, para desespero dos anfitriões.

E eram cheio de “gracinha”.

Um já foi logo dando aperto na Cidinha, irmã mais velha da Esmeraldina, solteirona e fogosa.

Outro, não tirava o olho da vovó. Aos 60, dona Esmeralda ainda dava um “caldo”. A sem vergonha fingia não gostar, mas de vez em quando dava um “lance” com a saieta de renda, plantando “coisa” na cabeça do sogrão.

O terceiro, agarrou-se à radiola e foi uma noite só de clássicos: de Amado Batista a Carlos Alexandre, passando por Raça Negra no pagode e “Chicrete” no axé. Som topado, os vizinhos até a polícia chamaram.

De Tião, silêncio sepulcral. Na hora de estourar o champagne, nenhum sinal de gaiatice.

Sério, compenetrado, torto de álcool, Tião ainda entoou um “derrama Senhor sobre eles o seu amor...” fraquinho e sussurrante, mas nada de errado cometeu, para a surpresa de todos.

Dona Esmeralda estava estupefata. Esmeraldina, estava “incrível”, como ela mesma dizia. Seu Zuza estranhava o comportamento do genro. Para ele, ou era milagre, ou era fastio.

Já os amigos do malandro alopravam!

Estavam arrebentando. Gracinha foi “passear” no quintal com um deles. Dizem que, na cozinha, o outro mostrou o “peru de Natal” para a dona Esmeralda, santinha do pau oco. O terceiro cantou umas trinta vezes a música da “secretária na beira do cais...”. Também agitou a noite inteira com seu Zuza, imitando o Tiririca e cantando “ele é corno, mas é meu amigo”...

Tião, enquanto isso, foi nocauteado.

Desabou.

Lá para as três da manhã, foi dormir o sono dos santos e sonhar o sono dos justos.

Enquanto isso, a família teve que agüentar os três.

A família, e os vizinhos...

Só saíram de lá de manhã cedinho, porque seu Zuza pegou a pistola calibre 22 de espoleta e deu uma de Rambo.

Os três, corridos de lá, sumiram.

Pronto: mais um Natal, com mais uma “fuleiragem” do Tião. Tinha que ser!

Quando Tião acordou, cinco da tarde do dia 25, pronto para fazer desjejum com meiota, foi cobrado pela camaradagem excessiva na noite natalina.

Quem já viu, levar três desordeiros para casa no dia da festa Cristã?

- Amigos de quem? Meus? Quando eu entrei, eles “emburacaram”. Aqueles, nunca vi mais gordos, nem com touca de Papai Noel!`

Foi a presepada do Tião naquele Natal. Mesmo que involuntária, marcou a data.

Foi um presente para três reis, magos da cachaça, que seguiram a estrela santa da “manguaça”.

 

 

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