Um dos temas que mais gosto de pesquisar é guarda compartilhada. Como já escrevi, vivo nessa condição com meu filho e só encontro vantagens. Isso mesmo. Entre a guarda unilateral e a guarda compartilhada, a primeira só tem desvantagens. Isso é muito simples de explicar. Com a guarda compartilhada, a criança tem preservado seu direito à convivência. Nada justifica a perda desse direito, a não ser a efetiva impossibilidade de um dos cônjuges.

Quando falo de guarda compartilhada falo de convivência mesmo. Com a criança ficando em casas alternadas, do pai e da mãe. Nada de só buscar na escola ou almoçar de vez em quando. Ficar de fato com a criança em casa, dormindo em casa. Assim é que se pode efetivamente participar da criação do filho. O ideal é que haja igualdade de tempo, mas isso pode depender de condições particulares do ex-casal.

Mas isso nem sempre funciona. Há ainda o absurdo entendimento por parte de alguns juízes de que a guarda compartilhada só dá certo quando não há conflito... Isso é ridículo! É justamente quando ambos querem a guarda do filho que a guarda tem que ser compartilhada! Mas o problema real não é esse. Na verdade, a grande maioria dos pais e mães entende que quem tem o papel fundamental de criar os filhos é a mãe, cabendo ao pai ser um mero assistente.

O problema começa fora do Judiciário.

Amigos, não podemos negar a realidade. Vivemos ainda num mundo dominado por ideias machistas. No que se refere à convivência com os filhos, ainda temos como base a visão de que o pai é um mero acessório na criação dos filhos. Mesmo que psicólogos, juristas, filósofos, etc. digam que ambos têm função essencial, o preconceito permanece. E não apenas entre as mulheres, mas também entre os homens.

Aconteceu comigo. A imagem que eu tinha do meu futuro era ser um bom visitante do meu filho. A cada quinze dias um final de semana juntos. Só depois fui pensando: isso é lá criar menino? Comecei a despertar para a guarda compartilhada com o tempo. E sabem qual foi o meu primeiro desafio? Vencer a desconfiança natural de todos ao meu redor. E como se faz isso? Não é com discurso, mas com ação. Cobrar da mãe cada vez mais tempo com o filho e provar que sabe cuidar de uma criança.

Digo isso porque sou constantemente procurado por pais interessados em modificar o regime de guarda ou mesmo em aumentar o número de dias de visitação. A ideia de todos eles é seguir diretamente para uma ação na Justiça. Porém, quase sempre meus conselhos resultam na desistência da demanda judicial. É que a maioria dos problemas que casais separados enfrentam no que diz respeito à convivência com os filhos pode ser resolvida com conversa e disposição para agir. Principalmente por parte do pai.

Uma vez, um pai desesperado me procurou. Estava insatisfeito com a visitação anteriormente acordada e queria mudar. Queria a guarda compartilhada. Então fiz meu tradicional interrogatório: A mãe permite que você leve o menino para escola fora dos dias acordados? Permite que você leve para passear fora dos dias acordados? Você aparece na escola para as reuniões de pais? Acompanha as atividades escolares? Vai para os aniversários dos coleguinhas? Leva ao médico? Você cobra isso tudo da mãe do seu filho, ou aceita passivamente o regime de visitação?

A razão desses perguntas é a seguinte. Muitas vezes os pais sequer tentam, devagarzinho, impor sua presença ao filho. Talvez a palavra “impor” seja muito forte. O que quero dizer é que o pai deve, antes de tudo, estar disponível para essas atividades. Procurar o filho, mesmo fora da hora marcada. Pedir mais presença. Sei que o orgulho é grande, mas o bem do filho é o que importa. O que custa pedir à mãe para pegar na escola ou levar para almoçar, fora do dia de visita?

Muitas vezes, essa disposição para o diálogo vai trazendo harmonia onde antes só existia conflito.

Sinceramente, acho até natural a desconfiança de muitas mães. Ainda mais quando o pai nunca esteve disponível, entende? Depois que essa disponibilidade aparece, normalmente a mãe vai ganhando confiança e começa a achar importante essa atenção para com seu filho. Existe coisa melhor? Poder deixar seu filho com o pai enquanto viaja a trabalho? Às vezes ocorre o absurdo de se preferir deixar com uma babá a deixar com o pai...

O que não dá para aceitar é brincar com a vida da criança. Se você é pai e quer maior convivência com seu filho, vá à luta! Não entre logo na Justiça. Corra atrás no dia a dia! Vá à escola. Compareça às atividades extracurriculares. São tantas as festinhas, feiras de conhecimento, dancinhas de São João, cantatas de Natal... Não são todas as que a mãe pode comparecer!

Há um outro ponto importante. Quando eu falo que os pais devem cuidar dos filhos, estou falando daquelas coisas do cotidiano que normalmente o homem deixa para a mulher fazer sozinha. Já que a mãe tem quase o monopólio do bebê durante os meses de amamentação, o pai se acomoda no seu papel secundário.

Para fazer valer seu papel na criação, o pai não deve se acovardar. Ele precisa pegar o filho desde cedo. Deve manter uma estrutura em sua casa, com ambiente próprio para uma criança. Tem que trocar fralda, dar banho, fazer comida, cuidar da saúde, levar para vacinar, levar ao médico, medir a febre... Aí eu quero ver!

Sabe o que me incomoda de verdade? O pai não faz nada disso e quer a guarda compartilhada só para aperrear a mãe na hora da separação. É só uma variante da atitude antiética de usar o filho para atingir outra pessoa. Se o homem quer assumir essa função na criação dos filhos, tem que arcar com os ônus do dia a dia. Isso significa muito!

Nesses momentos que parecem banais é que a conexão de respeito e confiança se estabelece entre o pai e o filho. E por isso eu me deslumbro com a paternidade a cada dia. Hoje, com meu filho aos seis anos de idade (sempre em guarda compartilhada), essas coisas não são mais novidades para mim. É como se tudo fosse tão óbvio...

Esse é o conselho que dou para os pais que me procuram, ávidos por uma demanda judicial: somente depois de demonstrar sua disponibilidade e competência para ser pai é que você pode cobrar da mãe que o respeite e que não intervenha contra o direito do seu filho de conviver com o pai. Se, depois disso, a mãe ainda estiver irredutível, a demanda judicial é o caminho.

Das situações que tratei até hoje, a maioria foi resolvida com conversa e participação. Acreditem, esse é o caminho.