O aumento no número de homicídios de caráter homofóbico em Alagoas – já são quase 20 em 2011 – é quantitativamente análogo ao recente genocídio de moradores de rua registrado em Maceió.
É também primo do número exorbitante de rapazes, em sua maioria pobres, que tombam na aventada “guerra do tráfico” que ocorre nas periferias das cidades alagoanas.
Assim como é parente próximo dos crimes torpes e aparentemente banais que, vez por outra, causam comoção por vitimarem filhos da classe média e da pequena burguesia.
Todos são gêmeos siameses e frutos de causas como impunidade, miséria extrema, corrosão das estruturas sociais e familiares, e ausência do poder público nas regiões carentes, em especial.
Mas, em verdade, todos são resultado de um composto que acomete nossa sociedade. Composto este que é o valor quase irrisório que se dá a vida humana em nossa Terra dos Marechais.
Lamentavelmente, perdemos o apreço ao próximo, a compaixão para com a vida do próximo e a solidariedade a respeito da dor do próximo.
Sofremos a mais grave das doenças: a insensibilidade.
Estamos todos doentes.
Quer provas desta mazela? Voltemo-nos para micro atitudes de nosso cotidiano.
No trânsito, desrespeitamos os pedestres. E os demais motoristas são não parceiros no trânsito caótico de Maceió, e sim inimigos na guerrilha por espaço em nossa precária malha viária. Ultrapassagens são duelos, inclusive com armas a postos.
Ver crianças mendigando nos sinais, exploradas e prostituídas, não nos causa indignação. Somente o impulso de fechar o vidro do carro e balançar as cabeças em uma negativa incômoda e vil, sinal de nossa onipotência.
Acreditamos que a busca pela sobrevivência é efetivada pelo aniquilamento do outro. Daí a corrupção, a fraude, a trapaça e o desrespeito ao público. Ou a concepção, errônea e vilã, de que o público é o privado. Confusão mental voluntária comum em nossa classe política.
Diante desta realidade, por que se movimentar contra a matança de mendigos e de gays?
Infelizmente, resta-nos a resignação.
Ou reaprendemos a valorizar a vida, ou continuaremos assim, achando que os assassinados procuraram ser vítimas de crimes, hipótese esta que é absurda. Procuraram ser vítimas ou por serem “usuários de drogas”, ou por “morarem na rua e arrumarem inimizades” ou por “terem preferência sexual por pessoas do mesmo sexo”.
São vidas que se vão, e não voltam.
São Vidas!
Com uma única diferença das nossas: despedem-se mais rápido e penam menos – ao custo de uma brutalidade imensurável e desumana – nesta realidade insana em que vivemos.
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