O que causa mais espanto no caso dos Jogos Nacionais da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) é, além do questionável patrocínio de empresas estatais, o fato uma entidade tão renomada, valorosa e importante como esta, representante de “casta” superior de nossa magistratura, não ter se dado conta do ridículo extremado da situação em que ela mesma se colocou com esta polêmica atividade “esportiva”.

Para quem não sabe do fato, reproduzo trecho de reportagem de O Globo publicada dia 1º de novembro, para que ninguém me acuse de leviano ou de hiperbólico:

“Cerca de 320 juízes e seus acompanhantes estão contando com o apoio de empresas estatais para fazer turismo esportivo em Porto de Galinhas (PE). O Banco do Brasil e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), vinculada ao Ministério das Minas e Energia, bancaram parte dos Jogos Nacionais da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), uma maratona de provas em resorts à beira-mar, com modalidades que vão do tiro esportivo ao pingue-pongue e ao dominó”.

O que?

Tiro esportivo? Pingue-pongue? Dominó?

Santo Deus! Não é possível!

Este tipo de atividade desporto-recreativa já foi protagonizado por outra entidades da magistratura nacional. Portanto, a crítica aqui é geral e a mais abrangente possível.

Com todo o respeito aos magistrados e às entidades que zelam pela imagem de seus juízes associados: só faltam “Halterocopismo”, "Truco" e a popularmente jocosa “Porrinha” para que tais Jogos sejam ainda mais acintosos e debochados para com nossa inteligência coletiva.

Ora, juiz tem direito a férias, coisa que os advogado não têm. E mais, adoro Porto de Galinhas e defendo o direito de juízes (e de faxineiros!) curtirem as belezas do litoral nordestino.

Mas “neste precinho” pago em parte por empresas que pertencem ao povo, aí já é demais para qualquer nível de bom senso.

A imprensa nacional criticou, com razão, o fato de esta “Olimpíada Togada”, com modalidades de fazer inveja ao Barão de Coubertin, ter sido paga também com dinheiro de nossas empresas.

Sim, porque neste caso o Banco do Brasil, nosso banco nacional, teria bancado R$ 50 mil a título de “patrocínio” a tão nobre festa do “esporte”.

Já a Chesf, uma empresa do povo brasileiro, com rubrica análoga teria ofertado R$ 35 mil para este “Medida Certa” da família magistrada.

Que generosidade!

Esta aí uma boa dica para todos os esportistas que penam por apoio e patrocínio para modalidades já consagradas de competição, com projetos suados debaixo do braço, recebendo um festival de negativas e passando dificuldade em um país que vai sediar Copa do Mundo e Olímpiadas: procurem o Banco do Brasil e a Chesf.

Mas justiça seja feita, sem ser redundante. Mais uma vez, reproduzo o texto de O Globo: “a Anamatra alegou que os participantes pagaram taxa de inscrição (R$ 200), além de suas despesas de deslocamento para Porto de Galinhas, hospedagem e alimentação, sem colaboração dos patrocinadores”.

Reconhecemos o papel da Anamatra e sua contribuição para a causa da Justiça nacional. Confiamos e acreditamos nesta entidade, assim como nas demais que representam os juízes do Brasil. Mesmo assim, persiste o direito à crítica construtiva que fazemos. E que vários setores nacionais fizeram, acertadamente.

E, ainda mais, continua nosso descalabro quanto à realidade de que diante de temas tão importantes existentes na pauta de nossa justiça, a entidade mor dos juízes trabalhistas se preocupe e se dedique à redação de regras como as abaixo, constantes no regulamento de seus Jogos:

“CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO - DA MODALIDADE DOMINÓ EM DUPLAS

Art. 29. A competição de dominó será realizada em categoria única, sem distinção por idade ou sexo, e não haverá limite de inscrições por Amatra.

Art. 30. Serão distribuídas 7 (sete) pedras para cada participante.

Art. 31. Iniciará o primeiro set o jogador que tiver a pedra 6x6 (carroça, carrilhão, barata, carreta, bucha, dozão, carrão, etc), prosseguindo o jogo no sentido anti-horário.

Parágrafo primeiro. O set termina quando qualquer dos jogadores colocar validamente sua última pedra na mesa, ou quando não houver mais jogadas possíveis”.

Piada pronta? Imaginem o "esforço" para a criação deste CPD (Código de Processo Dominolístico)!

De fato, diante destes torneios recorrentes na cultura de nossos tribunais, está explicado o porquê de os processos serem julgados com tamanha "agilidade" no Judiciário nacional.

Afinal, é de se imaginar Grupos de Estudos sobre as regras das competições e Grupos de Treino para tão notáveis atividades esportivas.

Eletrizante, não? Disputadíssimos torneios...

Porto de Galinhas deve estar "bombando" com este "X-Games Judicante".

Mas lamentavelmente nunca participamos destes eventos. Afinal, sempre estamos nas filas dos tribunais, aguardando que nossos atletas retornem de seus sonhos “Débeis-Olímplico”.

E a medalha? Qual daríamos a eles? Deixo esta missão para o leitor...

 

 

Quer mais: só conferindo o site dos Jogos, clicando aqui

E sigam-me no Twitter: @weltonroberto