Na vizinhança, na cidade, na região, tinha fama e deitava na cama, literalmente.

Era, para tudo e para todos, Chicão, o Homem Jumento.

O por quê?

Porque tinha “um”, dizem às línguas boas ou más, “enoooorrrrrmeeeee”.

E se vangloriava por isso para com os demais, pobres mortais da espécie de tamanho natural, salvo exceções nipônicas, eunucas ou de anjinhos barrocos.

A Cidinha, esposa suculenta sempre desejosa e por todos desejável, era só sorriso de satisfação e só leveza de congraçamento.

Diziam as futriqueiras da vila que ela não andava, levitava.

Era o “descomunal” efeito do “avantajado amor”. E se dava ao prazer da inveja a lambisgóia, para deleite do esposo.

Tanto que ela nem ligava para “pulada de cerca”, traição ou “costura para fora” que o marido empreendesse.

Dizia que “aquilo” de Chicão era que nem “melancia grande”. Impossível uma só comer.

Daí a partilha ser bem vinda e até necessária.

E Chicão Homem Jumento aproveitava a libertinagem, fazendo inveja a todos os, perto dele, “pinta de meio palmo ou uma lasquinha mais”.

Ele, concentrado pela natureza, exibia-se mesmo.

E zombava. Não sobrava ninguém. Do Padre Nepomuceno ao Dr. Fontes Farmacêutico. Do prefeito Vespasiano ao Socó, anotador de jogo de bicho. Do Zequinha do Mercado ao Tonho da Van. Era tudo “café pequeno” para o varão.

Olho de trema, parecia ter fita métrica. Sob sua “auditoria” visual – e só com fins científicos segundo o próprio, machão “brucutu” que era – ninguém passava de 10 centrímetros em estado “sonolento”, marco muito distante de seus propalados 30 centrímetros em repouso absoluto, pós noite de sono e banho frio em madrugada gelada de inverno.

Tudo ia às mil maravilhas. “Matriz” e “filiais” bem “atendidas”, onças cutucadas com vara longuíssima, demais machos apequenados...

Todas as fêmeas, ou quase todas, dando mole para dono daquela “bazuca”, arma de fazer amor e botar gaia em corno conformado com o comprimento e diâmetro da concorrência desleal.

Até que de uns tempos em diante Cidinha andava, ria, curvava-se diferente. Não era mais a mesma.

Procurava seu “eqüino” caseiro com menos fervor. Estava “enjoada”, com dor de cabeça, em turno “daqueles dias”...

Mal da idade? Olho gordo? Quebranto? Trabalho de “Xangô”? Língua de sogra? Praga de mãe?

Desesperou o Chicão!

Tudo começou com o circo. O Universal Circo do Ceilão chegara por aquelas bandas. Rebuliço na cidade, sonho para a molecada, primeira fila para Cidinha.

Só queria estar ali a danada. Dia e noite, matinê ou sessão especial, ensaio ou preparativo de quadro novo, atrás da lona, ou dentro de aposento móvel.

Mas não durou muito a safadeza, porque foi-se embora a trupe. Levando Cidinha junto.

Um escândalo!

Como? Qual motivo? “Prumódiquê”?

Qual razão da mulher dispensar aquele que era o imbatível nas artimanhas do sexo, dotado de tamanho poderio capaz de enfeitiçar donzela, “libidinar” viúva e fazer de mulher direita vadia.

A conversa correu solta. Um mascate que rodava lá pelas bandas de Pernambuco viu a tenda do Universal Circo do Ceilão instalada em Araripina.

Foi conferir o espetáculo e viu Cidinha travestida de “rumbeira”, requebrando seu quadril redondo e grande em cima do anão Astrogildo XingLing, dono do circo e “Bala Humana” do Canhão da Morte.

E a conversa miúda de “sem vergonhice” entre a mulherada era uma só: no reservado de seu “trailler” o anão fazia um número especial, para platéia seleta de uma só dama escolhida: o número de “Dar Nó em Cobra”.

E dizem que não era “cobrinha xôxa” não, tal qual coral, sucuri, jararaca ou surucucu.

Era uma verdadeira Anaconda. Inimaginável.

Incrível um ser de mais de meio metro ter a sua altura igual ao calibre do seu “instrumento” circense.

E Cidinha, manca de volúpia, havia ganho o passe, o ingresso, a senha para a apresentação privê do anão. Foi aí que viu mais que em Chicão Homem Jumento e trocou na hora de “bengala”.

Chicão amarelou. Perdeu a mulher e deixou de ser “garanhão” para virar “pônei maldito”.

Abandonou a vida de raparigagem pelo pior dos caminhos. O caminho do enfeite na testa.

Casou com uma crente fundamentalista ultra ortodoxa xiita. Passou a freqüentar a igreja e, agora “pudorento”, nunca mais se “amostrou”.

Tinha sido derrotado em sua guerra do metro. Ainda mais por um anão!

Perdeu seu grande amor, sua moral e sua empáfia.

E nunca mais milimetrou o “documento” de ninguém.


 

 

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