Brasília – Li no Cada Minuto a matéria da excelente jornalista Tereza Cristina com o deputado Temóteo Correia, acerca da manifestação contra a corrupção no País.
O deputado disse que Deus criou o Bem e o Mal, logo criou também a corrupção. Alguns estranharam a declaração do deputado Temóteo, mas o deputado tem razão.
Quer dizer: tem mais ou menos razão, porque não foi Deus que criou o Bem e o Mal, e sim Zoroastro, também conhecido como Zaratustra, quando fez a primeira reforma religiosa.
Originariamente, a humanidade era politeísta. Abraão, por exemplo, era politeísta e quando se decidiu pelo monoteísmo gerou o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo – que descendem dele, Abraão.
Pois bem; do ponto de vista social o politeísmo não era obstáculo, mas do ponto de vista econômico e militar era uma tragédia sobretudo quando um País invadia o outro e tinha que controlar e administrar um povo com várias crenças e vários deuses diferentes.
Veio daí a grande sacada de Zoroastro ou Zaratustra, ao estabelecer que a partir dele só iria existir apenas um Deus – que era o Princípio do Bem e do Mal – e que caberia à humanidade praticar o Bem para ajudar a Deus a vencer o Mal.
Portanto, não vamos condenar o deputado Temóteo Correia; até porque a idéia de Zaratustra é tão boa que dura até hoje e é a base da Bíblia e do Alcorão.
O deputado Temóteo Correia me lembrou o grande Gilberto Gil, ao explicar uma música dele chamada “Abra o Olho”, que diz assim:
Ele disse abra o olho
Caiu aquela gota de colírio
Eu vi o espelho
Viva o Pelé do pé preto
Viva o Zagalo da cabeça branca
Num show em Campinas-SP, em 1974, o Gilberto Gil teve de se explicar na delegacia essa alusão ao preto e ao branco, e ele se explicou alegando que era a “complementariedade dos opostos”.
O preto o branco; o policial e o bandido; o alto e o baixo; o gordo e o magro; o feio e o bonito, ou seja, ambos se completam igualmente ao Bem e ao Mal – que só existem em função um do outro.
O deputado Temóteo Correia tem razão: Deus é o Bem e a corrupção é o Mal. E o problema é que todos nós temos lá no fundo um pouquinho do Mal.
Que não pode ser extirpado de todo, senão o Bem fica sem comparativo. Ou, como definiu Gilberto Gil, sem o complemento.
E o pior é que a sociedade consagra o mal que o outro pode fazer. Jamais a sociedade consagra o bem, porque se fosse assim seriamos todos Deus.
E nem Zorastro, que inventou Deus, era ele próprio um Deus!