Quando se pensa que chegamos ao fundo do poço, constatamos que o poço não tem fundo.

O que fazer diante desta situação de escárnio?

Espera aí: o autoproclamado Governo do Bem não sabia que as casas em “eterna” construção para os desabrigados das chuvas de 2010 deveriam ser pagas (não se sabe como...) pelos próprios desabrigados?

Não havia como evitar este deboche e esta insensatez?

Os técnicos do governo, o governador, seu vice e os secretários de Estado envolvidos na operação não sabiam que se tratavam de recursos do programa “Minha Casa, Minha Vida”?

A equipe que ocupa os postos de comando do Estado – e que não perdeu suas casas nas enchentes de 2010 – não sabe ler? É analfabeta? É mentecapta? É acéfala? É sádica e masoquista em simultâneo?

Com todo o respeito!

Respeitem-nos!

Vamos ser curtos e grossos, sem grosseria: o Governo do Estado tem OBRIGAÇÃO de reverter esta cobrança.

E ponto final!

Tem OBRIGAÇÃO!

A notícia que as casas não serão entregues sem custos aos desabrigados é tão absurda, repulsiva, vexatória e escabrosa quanto a conivência dos ocupantes do Palácio República dos Palmares nesta questão.

Não leram o contrato com Caixa Econômica?

Fecharam uma negociação com o Governo Federal envolvendo cifras milionárias sem saber quais as condições do financiamento?

Vão fazer o que agora?

Procurar o Procon?

Reclamar via Twitter?

Comprar novo lote de tendas no Mercado Livre?

Fazer "biquinho"?

Deveriam, além de tudo e no mínimo, ter a hombridade e a humildade de admitir o erro, pedir desculpas aos farrapos humanos que agonizam em tendas precaríssimas e se apequenam frente à inércia estatal.

E deixar bem claro que as casas não serão DOADAS. Que não é BENESSE. Que moradia é um DIREITO do cidadão. Que os desabrigados são CONTRIBUINTES direta ou indiretamente e que suas novas “residências” são fruto de uma Política de Estado, não de uma ação milagrosa ou benevolente de um governante (seja parlamentar, prefeito, governador ou presidente).

Antes do começo da atual gestão em sua primeira fase, ainda em dezembro de 2006, o grande ex-presidente FHC disse que Alagoas seria um “laboratório de experiências” de sucesso em gestão pública a partir de 2007.

No começo deste ano o vice-governador José Thomaz Nonô também se referiu ao termo “laboratório” para citar parcerias capazes de fazer Alagoas avançar.

A metáfora laboratorial certamente partiu de gente séria, quero crer.

Mas em se tratando de metáfora, lembremos dos laboratórios nazistas montados ao lado dos campos de concentração na Alemanha de Hitler. Laboratórios que pregavam e buscavam desenvolver a Eugenia, ou seja, a tentativa demente de criação de uma raça pura, superior.

E é como se, contraditoriamente, fosse esta a ação de “laboratório” que estivesse em curso em nosso estado por meio de mãos que no lugar de afagar e acolher, vilipendiam e desabrigam nossa cidadania.

É mais ou menos assim, com uma voz onipresente e opressora que parece falar:

- Terminemos o trabalho de purificação feito pela natureza em sua enxurrada mortal! Já os deixamos à míngua, expostos a toda a sorte de doenças, durante meses habitando barracas fétidas, insalubres, indignas, humilhantes, passando fome, sobrevivendo à privações inúmeras com suas mulheres expostas, seus homens cabisbaixos e suas crianças desnudas, aos carcarás.

- Deles já foi retirado o brilho dos olhos, a paixão, a vaidade, os bens materiais e imateriais, as lembranças... e o chão. Com mais uma ajudinha nossa, tudo se resolverá. Para que dar esperança para milhares de pobres miseráveis? Retiremos o direito de sonhar que é a única “coisa” que ainda lhes resta. Ofertemos a eles e a elas “casas” novas...  e dívidas mil, para eles impagáveis. Aumentemos o inferno de suas vidas...

A comparação é alegórica e forte. Mas pedagógica quanto ao descaso público deste (des)feito de nossos gestores.

Lamentavelmente, nunca se fez tanta... maldade.

Quero crer que não de modo proposital.

Quero crer que de forma culposa, não dolosa.

Culposo pois fruto da insensibilidade de quem nunca dormiu sob teto de lona, jamais pisou piso de barro batido ou defecou em banheiro de fossa cavada na terra.

Nunca viu sua casinha ser levada por um rio.

Nunca teve que explicar às suas crianças que a piedade se foi junto com o dilúvio.

Nunca dependeu de governo para ser tratado, simplesmente, como gente.

 

 

 

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