Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
Haveria competição, molecagem, bagunça e estripulias.
Mas no final haveria a doce ingenuidade infantil.
Haveria a birra e a manha. Mas haveria ternura e inocência.
Sem contar o choro incontido decantado sem vergonha, sem mascaramento.
Como burramente crescemos, engrandecemos, amesquinhamos evitando o chorar!
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
O planeta seria feito de doce, jogo de bola, casa de boneca.
Para que carrão, Ipad, viagem a Nova Iorque?
Um videogame seria o topo de nossa insana cadeia de consumo.
Porém um sorriso, um afago e uma brincadeira compensariam qualquer compra vulgar e inútil.
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
Drogas? Só açúcar.
Política? Só a da sucessão na volta de bicicleta.
Maldade? Só pregar peça no avô.
E seria Lei: os iguais aos governantes – crianças todas, por conseqüência e por decreto – ficariam proibidos de serem abandonados à rua, à prostituição, à mendicância.
E um Tribunal Penal Internacional julgaria os crimes de abandono e maus-tratos, punindo infratores adultos com o peso do remorso e efetuando a necessária reabilitação destes “criminosos”. Seriam obrigados a voltar a pular amarelinha, brincar de pique-esconde, pega-pega e ao final entender que o mundo para as crianças é sempre uma gostosa brincadeira.
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
Assembléia, Tribunal, Prefeitura de portas-abertas, com brincadeira com graça de verdade, sem vilania nem deturpação. De termo e de ato.
Polícia e bandido, só de mentirinha.
Seu Rei mandou dizer, só na alegoria. Fim do mando e do subjugo.
Escravos de Jó, só no jogo-canção. Fim da exploração e do oprimido.
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
Guerras só de soldadinho de chumbo e terrorismo só na máscara de monstro que o tio coloca no carnaval.
Fome? Chocolate, pipoca, pastel. O prêmio Nobel seria entregue ao inventor da cura da cárie.
Canalha seria só um monte de cana junta!
Assassino só o sujeito que assa sinos para endoidar o padre.
Pai e mãe, imortais e imbatíveis, teriam altar e seriam seres indestrutíveis a lutar contra monstros horripilantes perturbadores de sono e indignos habitantes de quartos escuros.
E mais: a vovó nunca se aposentaria a contar infindáveis estórias de contos de fadas!
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
A miséria seria substituída pela partilha e a desigualdade pelo grito de comemoração dos meninos, pela delicadeza coletiva das meninas.
Os animais seriam, enfim, respeitados. Do “auau” ao “passarim”. Dinossauros voltariam a existir. Respeito à vida acima de tudo.
Nas escolas seria obrigatório o sonho. Na educação seria compulsória a liberdade. Nas repartições, nas empresas, nos clubes e nas entidades imperaria o criativo e não a filiação, afinal seriam todos crianças sem cotas sociais, raciais. Cotas só nas "vaquinhas" para comprar mais confeitos e picolés!
A corrupção seria banida e o poder se renderia à risada.
Palhaço seria promotor. Vendedor de algodão-doce, empreteiro. O circo, realidade onírica concreta e o parque a Pasárgada eterna.
Não haveria Palácio, nem Presídio.
Só a vastidão colorida sem grades, sem adornos, sem celas, sem tronos.
Sem soberba.
De uma governabilidade sem igual.
Quem nos dera fosse o mundo governado por crianças!
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