O CadaMinuto teve acesso, com exclusividade, ao boletim de ocorrência registrado pelo policial civil José Wilson Barboza de Magalhães Júnior no último domingo (02), onde revela a existência de um dossiê contra o delegado-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco. A ação do agente ocorreu após temer por sua vida, já que teria sido informado de um plano articulado pela cúpula da instituição para executá-lo.

José Wilson, que trabalha na Casa de Custódia 2, relatou que no dia 08 de setembro deste ano recebeu um ofício da Corregedoria da PC solicitando sua presença para prestar esclarecimentos num processo envolvendo a diretora da Casa de Custódia, Maria Goretti Cavalcante, e o delegado e presidente da Adepol, Antônio Carlos Lessa. Ele afirma que não pode comparecer ao chamado, pois estava numa audiência no Fórum do Barro Duro, referente ao processo de adoção de seu filho.

Uma nova audiência teria sido marcada pela Corregedoria, mas o agente decidiu não aparecer, pois, segundo ele, estava recebendo ameaças dos diretos da Custódia Maria Goretti e Murilo Moura para incriminar o delegado, dizendo que teria o visto entregar um aparelho celular a um dos custodiados.

Como não estava em serviço no dia do suposto ocorrido, José Wilson Barboza se negou a fazer tal afirmação. O agente disse ainda que a diretora da instituição tentou coagi-lo, afirmando que “era muito amiga do Juiz de Execuções Penais e do Promotor Cyro Blater, e que o diretor Marcílio Barenco já havia avisado a ela que não se preocupasse com policiais que não colaborassem com ele, pois ele resolveria o problema”. Além da suposta intimidação, Maria Goretti teria telefonado por três vezes para o agente e pediu para que ele mentisse na Corregedoria contra Antônio Carlos Lessa.

Sobre a descoberta de um plano para matá-lo, o policial civil disse ter sido informado por um conhecido, cujo nome não foi revelado, sobre sua transferência para a cidade de Cacimbinhas, interior de Alagoas, local onde ocorreria o crime.

O motivo, segundo o depoimento, seria as denúncias por ele feitas referentes a práticas de torturas na Casa de Custódia I, cometidas contra o preso José Aquino, tudo ordenado pelo diretor-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco.

Além disto, José Wilson teria denunciado uma armação da direção da PC para prender o escrivão José Carlos Minim e o advogado e Pastor Saulo Emanuel de Oliveira. O advogado estaria preparando uma denúncia contra Barenco referindo-se às práticas de tortura e a dificuldade em ter acesso aos presos, dentre eles, José Aquino.

Por temer pela vida, José Aquino teria, por diversas vezes, passado mal e encaminhado ao Hospital Geral do Estado (HGE). O agente disse que o preso deixava de se alimentar com medo de morrer envenenado a mando de Barenco.

Ainda de acordo com o informante, José Wilson foi alertado da existência de um dossiê contra Marcílio Barenco elaborado pelo delegado Carlos Alberto Reis e que seria chamado para testemunhar no Ministério Público Estadual, onde o documento seria entregue. No dossiê, além de Barenco, os diretores da Casa de Custódia também são citados.

Além de tramar sua morte, a Cúpula da Polícia Civil já teria providenciado o suposto acusado pelo crime. As acusações, segundo o agente, cairiam sobre o policial José Carlos Bispo, vulgo ‘Carlão’, já que há alguns anos havia sido aberto um procedimento contra o policial. A alegação para o crime seria resultado da oposição ao Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol), pois José Wilson foi candidato a vice-presidente da chapa de oposição.

A morte do policial civil também era quista por juízes alagoanos, segundo o boletim de ocorrência, e todos os fatos começaram a chamar sua atenção com a confirmação de sua transferência para Cacimbinhas, com a portaria publicada no Diário Oficial desta segunda-feira (03).

O depoimento do agente é finalizado com a afirmação da existência de vários outros fatos que comprometem Maria Goretti e Murilo Moura, mas que só seriam revelados após receber proteção do Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL) e do Ministério Público Estadual.

Coordenadora nega declarações de agente

A coordenadora da Casa de Custódia, Maria Goretti Cavalcante, em entrevista ao CadaMinuto, confirmou a transferência do agente, mas negou que pudesse estar articulando algum crime. Maria Goretti alegou que o único motivo para que José Wilson fosse remanejado para outra distrital seria a falta de adaptação dele em relação aos serviços na Casa de Custódia.

“Essa denúncia não tem nenhuma fundamentação. O que houve na realidade foi que esse agente não se adequou ao trabalho realizado aqui e por isso pedi o remanejamento dele com outro agente que conheço e sei de sua competência. Ele está misturando as coisas. Não há essa história de trama para executá-lo. O que eu não posso é continuar trabalhando com uma pessoa irresponsável, que não consegue cumprir horários. Sinceramente, ele surtou”, explicou a coordenadora.

Maria Goretti afirma ainda que não existem fatos concretos que possam comprovar a denúncia feita pelo agente e que não irá permitir que maculem sua imagem perante à sociedade.

“Sempre zelei pela polícia e pelo meu nome. Já fui homenageada por trabalhos à frente da Polícia e não vou permitir que façam isso comigo. Desafio qualquer pessoa que saiba algo sobre minha conduta. É uma situação delicada que ele terá que provar agora na justiça”, desafiou.

A atitude adotada pela integrante da PC é de formalizar uma representação contra José Wilson. “Vou representá-lo criminal e administrativamente. Ele terá que provar tudo que está dizendo. Por enquanto é a palavra de um contra a palavra do outro, mas o desafio a mostrar provas concretas que possam me ligar a existência dessa trama”, finalizou.

Barenco promete punição

Já o diretor geral da PC, Marcílio Barenco, que está afastado das atividades por licença médica, preferiu não se pronunciar sobre o caso. Por meio de sua assessoria de comunicação, o delegado apenas prometeu, também, representar o agente administrativa e criminalmente.

Segundo Barenco, isso não passa de uma denúncia vazia, que sequer o conhece e que toda a insatisfação veio após ter a transferência assinada pelo delegado-adjunto da Polícia Civil, atitude tomada para atender interesse público.