A mais recente polêmica do mundo da publicidade é a que envolve Gisele Bündchen e a propaganda da Hope. Acusaram-na de “machista”. Aparece Gisele com roupinha sem graça avisando ao maridão que gastou todo o limite do cartão. “Errado!”, decreta a peça. Depois, em trajes mínimos, alega que gastou tudo. O cartão dela e o dele. “Certo!”. Use seu charme!

A turma do PT se arretou. Queriam José Dirceu de calcinha, era?

Está difícil fazer humor nesse país.

Olhem, amigos, minha opinião sobre liberdade de expressão é libertária. Não se pode proibir previamente a veiculação de nada. NADA! Se houver dano, que se puna posteriormente. Qualquer restrição prévia é censura. Essa não é só a minha opinião, mas a do STF também. Estou orientando pesquisa nesse sentido no meu grupo e estamos chegando a essa conclusão. O STF não admite qualquer restrição prévia à livre manifestação do pensamento. Vide o caso do diploma para jornalista. Sua exigência legal é uma restrição prévia à liberdade, incompatível com o regime democrático.

Mas vivemos tempos complicados. Mesmo sendo essa a interpretação do STF, nossos juízes de primeira instância e tribunais de segundo grau estão indo por outro caminho. Qualquer coisa é pretexto para proibir veiculação de notícias ou para censurar obras artísticas, como no recente caso do filme “A Serbian Film”. O filme iria ser exibido em Maceió, mas um juiz entendeu que ele tinha o poder de impedir as pessoas de conferir o horrendo filme.

Eu não vi o filme e nem vou ver. Mas é um absurdo alguém me impedir de assistir a um filme, por mais horrendo que seja, num regime democrático. Que democracia é essa?

E sobre a acusação de que a película incita a pedofilia? (Parece que há uma cena de estupro de bebês) Sobre isso, só posso dizer uma coisa. Havendo mesmo a incitação (a cena, por si só, não pode configurar incitação), os responsáveis pela exibição sejam presos ou sei lá o quê! O que não pode é impedir o filme de ser exibido. Isso a nossa Constituição não permite.

Amigos, eu costumo sempre lembrar. Nossas liberdades não são necessariamente tiradas de uma só vez. Elas podem ser paulatinamente diminuídas. Uma hora é a camisa de torcida que não pode entrar no estádio. Outra hora é a publicidade em que pôneis são considerados uma ofensa às crianças (meu Deus!). Depois, filmes são proibidos de passar no cinema... Daqui a pouco vão proibir canções de duplo sentido! Opa! Lembrei que isso já é objeto de preocupação da Câmara Municipal de Salvador...

Vejam o caso do Rafinha Bastos. Entre tantas piadas infames, agora o sujeito se superou. Instado a comentar a beleza de Wanessa Camargo grávida, lascou um “Eu comia ela e o bebê”. Em pleno programa de TV, ao vivo! Isso lá é piada? O que esse sujeito merece? Cadeia? Não! Merece o seu desprezo. Merece sua falta de audiência. É isso que ele merece.

Muito cuidado. A democracia tem sua provação exatamente assim. Diante de coisas que não gostamos, o grande desafio é tolerar. É para isso que serve a liberdade de expressão. Mesmo aquilo com que não concordamos pode ser dito por alguém. A própria linguagem é o ambiente próprio para combater ideias estúpidas ou para criticar a arte.

O que estamos vendo é difícil de acreditar. 20 anos de Constituição democrática e ainda estamos pedindo o fim da censura.

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