Não importam os valores.
Não importa se a Secretaria de Defesa Social perdeu R$ 40 milhões, R$ 1 milhão ou R$ 1 em recursos da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
Não importa se deixamos de conquistar milhões ou centavos em investimentos em prol de nosso combalido e necessitado estado.
O que importa é que não podemos perder oportunidades de atrair dinheiro para financiar ações estratégicas em Alagoas. A segurança pública é uma das áreas mais críticas no desafio alagoano. Diante da tragédia de nossa guerrilha urbana, todo o recurso que venha se somar aos investimentos do Estado nesta área se torna essencial.
Sejam R$ 40 milhões ou R$ 0,04 centavos.
Mas este não é o tema que gostaria de enfatizar!
A imprensa divulgou a informação de que o Governo de Alagoas perdeu R$ 40 milhões de recursos para a segurança pública por supostos erros contidos em projeto enviado à Senasp.
O governador disse que era “exagero” da imprensa e minimizou o estrago dizendo que a “perda” foi de R$ 1 milhão ou R$ 1 milhão e meio...
Enfim, não importa esta “guerra de números” e de informação...
Do mesmo modo, se houve erro de fato, é claro que este não foi intencional ou proposital. A atual gestão tem deficiências, mas não é sádica ou masoquista a este ponto. Ademais, o secretário Dário César é um gestor sério e comprometido, reconheçamos! Trabalhos inéditos como o Núcleo Ressocializador mostram que há vontade e boas intenções!
Outro ponto essencial: a violência que nos aterroriza é histórica e não é fruto unicamente dos desacertos de uma única (a atual) gestão. Há décadas Alagoas e seus municípios desprezam educação, saúde, assistência social, geração de empregos, cultura. Cada desprezo desta espécie gera milhares de menores de rua, bandidos, delinqüentes...
O problema é “mais embaixo”. O problema é que nossas gestões públicas, como um todo, enfrentam um drama cotidiano da escassez de quadros aptos à administração pública verdadeira, eficaz e pró-ativa.
Precisamos, urgentemente, qualificar nossa gestão pública!
O citado “erro” do projeto da Defesa Social alagoana se repete em todos os níveis de nossos governos, nacionalmente, de canto a canto do Brasil. Existem fontes de financiamento, a maioria delas federais. O que falta é mais mão de obra qualificada em gestão pública, preparada para produzir bons projetos que se enquadrem nos requisitos impostos pelos órgãos financiadores.
E isto decorre por alguns motivos. Vejamos alguns:
Primeiro: o perfil do administrador público foi esvaziado ao longo do tempo. A competência para gerenciar os governos de estados e municípios não é inata e o gestor que não conta com equipe de alto nível, por melhores intenções que tenha, acaba com sua atuação limitada. O setor público, em muitos casos, paga salários menores que a iniciativa privada, setor mais ágil e sem as “picuinhas” do serviço público. Salvo em algumas carreiras – em especial as jurídicas – governos e estados pagam mal. E acabam contando com gente ou desmotivada, ou carente de capacitação especializada.
Segundo: o serviço público às vezes é só cabide de emprego. Aí os setores como assessorias técnicas e afins, que deveriam contar com técnicos especializados para justamente preparar bons projetos, acabam loteados por “companheiros” de todos os matizes políticos, a depender a indicação ou da filiação partidária, seja esquerda, seja direita. Exemplo: determinado cidadão só a usa internet para acessar seu Orkut e, mesmo assim, é “nomeado” em “comissão” para o cargo de Gerente de Inovação Tecnológica de uma secretaria, por exemplo. O resultado deste ato é desgoverno crasso e desserviço público. Todos perdem, em especial a sociedade.
Terceiro: impera no Brasil uma inércia gerencial motivada pela descontinuidade dos programas, pessoas e plataformas de governo. Funciona assim: o cidadão é eleito, empossa sua equipe e seus assessores. Ou é empossado em cargo de destaque e monta sua equipe (com ou sem ingerência política!). Sabe-se como o governo começa, mas nunca como ele termina. Aí ocorre de tudo: troca-troca de secretário e de assessoria, extinção de projetos e criação de novos, mudanças drásticas em orientações, falta de eixos estruturantes de ação e apelo para soluções milagrosas ou marqueteiras (todas inócuas!). Como saldo, a gestão se perde num labirinto do qual é difícil sair, por ser muitas vezes sem saída mesmo. Lembremos que Alagoas já teve mais de 40 secretários de estado num passado ressente, com trocas quase semanais de titulares de pasta.
Ou atentamos para esta necessária qualificação (profissionalização mesmo!) das administrações de estados ou municípios ou exemplos como a perda de recursos por projetos inadequados continuará a nos acometer.
O desafio é grande e nacional, não localizado somente em Alagoas.
Se bem que frente às nossas mazelas, equívocos na captação de recursos têm efeito em muito multiplicador.
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