O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou nesta quarta-feira (20) que o rápido crescimento do crédito no Brasil representa um risco à estabilidade.

No Global Financial Stability Report (Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, em tradução livre), lançado nesta quarta-feira, em Washington, o FMI cita o exemplo do Brasil ao lado da também emergente Turquia.

"[Nesses países] A qualidade dos empréstimos parece forte na superfície, mas a rápida expansão do crédito doméstico representa um desafio chave para a estabilidade futura", diz o documento.

O risco de aumento excessivo do crédito já motivou medidas do governo brasileiro para restringir a concessão de empréstimos e controlar a inflação.

Segundo o FMI, os grandes fluxos de capital que invadiram muitos emergentes --entre eles o Brasil-- após a crise econômica mundial ajudaram a alimentar a expansão na liquidez e no crédito.

RISCOS

O FMI alerta para o risco de superaquecimento em algumas dessas economias emergentes, com gradual acúmulo de desequilíbrios financeiros e deterioração da qualidade de crédito.

Outro risco é o de uma saída brusca desse capital estrangeiro, caso a situação econômica global se agrave ou haja mudanças nos fundamentos econômicos --como perspectivas de crescimento ou risco-país.

As medidas para restringir a concessão de crédito no Brasil, aliadas ao fraco desempenho da indústria --afetada pela valorização do real frente ao dólar-- e a uma maior incerteza no cenário externo são apontadas por economistas brasileiros como motivos para uma redução nas projeções de crescimento do país.

O próprio FMI reduziu na terça-feira para 3,8% a sua previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, uma queda de 0,3 ponto percentual em relação à estimativa anterior, de junho.

O caso do Brasil, porém, não foi único. As projeções para a economia mundial e para quase todos os países analisados pelo fundo também foram reduzidas, diante de um aumento das incertezas sobre a recuperação global.

Nas economias avançadas, onde as perspectivas de crescimento são bem menores do que nos emergentes, o FMI observa que há um impacto negativo tanto nas contas públicas quanto nas privadas.

FASE POLÍTICA

De acordo com o fundo, diante desse cenário, os riscos à estabilidade global "aumentaram substancialmente" nos últimos meses, e a crise econômica mundial chegou a uma nova fase.

Depois de períodos de dívida privada, crise no sistema bancário e problemas de dívida em economias avançadas, agora a crise está em uma fase política, marcada pelas dificuldades de consenso sobre consolidação fiscal.

Como exemplo, o relatório cita o caso da zona do euro --onde as crises de dívida e deficit iniciadas em 2010 em alguns países provocaram uma onda de desconfiança nos mercados.

Segundo o FMI, apesar de medidas importantes terem sido adotadas na região, diferenças políticas entre as economias que passam por ajustes e as que fornecem apoio impediram uma solução duradoura.

Nos Estados Unidos, o impasse nas negociação no Congresso sobre a elevação do teto da dívida pública --que quase levou o país a um calote inédito em julho-- lança dúvidas sobre a capacidade política de chegar a um consenso sobre um ajuste fiscal de médio prazo.

O FMI lembra que foram as dificuldades de um acordo entre Casa Branca e Congresso que levaram a agência de classificação de risco Standard & Poor's a rebaixar a nota dos Estados Unidos, em agosto.