Brasília – Quase 200 anos depois – e são exatos 194 anos completados hoje, 16 – ainda se discute se valeu à pena caparem 27 mil quilômetros quadrados do Sul de Pernambuco e inventarem Alagoas. Valeu?

Tenho cá minha opinião, mas sou suspeito porque minha ligação com Pernambuco é de raiz familiar; meu Vilanova no sobrenome é de Bom Conselho de Papa Caça, a terra do Pedro de Lara e do lendário “coronel” Zezé Abílio.

Prefiro ouvir dos amigos internautas que me honram com a leitura a opinião insuspeita. Todavia, devo facilitar o entendimento contando o que a história oficial omite. Vamos lá, então:

Alagoas é o único Estado que não foi conquistado ou desmembrado; foi outorgado como prêmio à lealdade à Monarquia.

Apesar de Alagoas ter sido inventada como prêmio à lealdade à Monarquia, quem comandou a política no Estado foi o republicano Sinimbu, filho da heroína da causa republicana Ana Lins, que armou um exército particular na região onde hoje é São Miguel dos Campos para apoiar o levante pernambucano de 1817.

Deu-se no novo Estado uma confusão tão grande, que até um argentino já foi governador de Alagoas. É o único estado brasileiro que foi governado por um estrangeiro.

Dizem os historiadores que o estado surgiria de qualquer maneira, devido ao seu “desenvolvimento”, mas não acreditem nisso. Trata-se de justificativa à subserviência à côroa e à traição a causa republicana em Pernambuco.

Se a versão desses historiadores fosse verdadeira, a situação de Alagoas seria outra. É ou não é?

Vamos por partes:

Alagoas possui a maior reserva de gás natural dissociado do petróleo, no país, mas fornece o gás para alimentar o pólo da Bahia, de Sergipe e à termelétrica de Pernambuco.

Ou seja: não se beneficia do gás que possui.

Existem cinco reservas de sal-gema no país, com valor comercial, mas a reserva de sal-gema com o maior teor de pureza está em Maceió. Entretanto, quem se beneficia da situação é a Bahia, com o Pólo de Camaçari.

No começo da década de 1970, Sergipe tomou a sede administrativa da Petrobras no Nordeste – que era em Maceió.

Alagoas é o único Estado banhado pelo Rio São Francisco sem irrigação pública no semi-árido.

A primeira rodovia pavimentada em Alagoas foi um “prêmio” dos Estados Unidos, como compensação por ter instalado em Maceió duas unidades militares durante a II Guerra Mundial. Ou seja: não foi obra do esforço político dos alagoanos.

Alagoas luta para construir o estaleiro em Coruripe, mas está difícil – e eu temo que jamais consiga – porque Pernambuco não vai deixar.

O porto de Maceió é subordinado ao Rio Grande do Norte, de modo que é mais barato usar o porto pernambucano de Suape.

Alagoas está fora do traçado da ferrovia Transnordestina.

Alagoas possui uma hidrelétrica ( Apolônio Sales ou Paulo Afonso IV ), mas quem fatura o ICMS é a Bahia.

Sergipe ficou com a parte boa da Hidrelétrica de Xingó e Alagoas com o lixo.

Os pacotes turísticos para Maragogi são fechados, em mais de 90% da procura, por Recife.

As indústrias aprovadas para o Nordeste foram divididas entre a Bahia, Ceará e Pernambuco.

E por aí vai. O que devemos fazer para que tenha valido à pena a emancipação? Ou melhor: quando será que a estrela será mesmo radiosa?