São todas justas, e até necessárias, as comemorações a respeito da Emancipação Política de Alagoas.
Não minto: o sentimento cívico e de vínculo afetivo extremo com este generoso solo mãe me emociona.
Alagoas merece sim homenagens!
Mas homenagens que sirvam, sobretudo, para que de fato e definitivamente nos libertemos da servidão não voluntária que ainda nos aprisiona, acorrenta-nos, faz-nos sucumbir em migalhas de cidadania.
E se o 16 de setembro enseja festa por emancipação, questiono: Alagoas realmente se emancipou?
Vejamos:
Nossa economia é dependente dos recursos federais que a União faz pingar nos bolsos rotos de uma imensa maioria de alagoanos desprovida dos recursos mínimos para sua sobrevivência.
O Bolsa Família está aí, lamentavelmente não me deixando mentir.
Entre os 102 municípios alagoanos acredito que cerca de 90% dependam, exclusivamente, dos repasses da União via Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e transferências de outras ordens como Fundeb, SUS e demais fontes de financiamento de origem federativa.
São cidades que nada produzem, nada arrecadam, e que precisam dotar suas populações de saúde e educação, no mínimo.
Sem contar no Fundo de Participação dos Estados (FPE), vital para os cofres da Secretaria da Fazenda.
No campo das obras públicas, a falência do Estado permite aos seus administradores fazerem muito pouco, ou quase nada.(ou quando muito fazerem promessas falsas, mentirosas mesmo!)
A maioria de nossas obras estruturantes depende de emendas parlamentares ou de recursos de ministérios.
Sozinho, o Estado (ou as prefeituras) pouco pode investir.
Isto quando os gestores são bem intencionados. Isto sem contar os “tubarões” que infestam nossa máquina pública.
Será que fomos, de fato, emancipados?
E a segurança, o combate à corrupção e o indispensável extermínio dos inúmeros malfeitos que aniquilam nossa dignidade e nos expõem à vergonha nacional?
As iniciativas neste sentido também são dependentes.
Isso mesmo!
Foi preciso a Polícia Federal entrar em campo, na década passada, para que políticos acusados de corrupção sentissem, de forma praticamente inédita, que o destino alagoano não era o de ser a eterna terra da impunidade.
Quem não se lembra das emblemáticas e quase constantes operações da Polícia Federal...
Sem desmerecer nossas autoridades policiais, nosso Ministério Público ou nosso Judiciário, a ação (ou intervenção?) federal foi decisiva, por vezes pedagógica, condenados, todavia, alguns excessos.
E sem a atitude que veio de fora a sangria na merenda escolar, nos recursos do duodécimo ou nas verbas para obras continuaria descomunal.
E o Tribunal de Contas de Alagoas?
Enquanto o Tribunal de Contas da União mostra trabalho nacional e local, nossa “Corte” aplica multas risíveis e cosméticas nas supostas irregularidades em nossas gestões públicas.
Neste elenco, não poderia faltar o vexame governamental que é Alagoas mendigar a presença de “tropas federais”, “forças nacionais” ou qualquer mitologia de “Comandos em Ação” que venha de fora e seja capaz de atenuar nossa guerrilha urbana, nossa matança indiscriminada.
Nossa Polícia Militar e nossa Polícia Civil são mal pagas e carecem de oxigenação e melhores condições de trabalho, além de ser inconteste a urgência no aumento do efetivo de homens e mulheres com qualificação e salário digno.
Será que fomos ou estamos emancipados?
Enquanto nosso vizinho Pernambuco se transforma em uma locomotiva regional e nosso vizinho Sergipe dá provas de organização e crescimento progressivos e sem pirotecnia, vivemos aqui a fábula da redenção estrangeira via atração de grandes empresas.
Deveríamos investir mais nos talentos e nas empresas locais, na formação da mão de obra local, no fomento à produção local.
Mas o que a dependência de Alagoas nos lega?
Uma propaganda oficial que quer nos vender a idéia de que teremos uma versão 2.0 do Polo de Camaçari em Marechal Deodoro ou que viveremos a purificação total de nossa indigência crônica por meio da instalação de um Estaleiro em Coruripe.
E esta ópera bufa já teve episódios que de tão ridículos são inesquecíveis. Nos anos 90 Alagoas teria fábrica de helicópteros, centro coreano de fabricação de computadores e um centro de produção de cinema.
Uma Hollywood de mentiras, cretinices e trapalhadas propositais. Hoje vivemos a esperança de um Estaleiro (será?)
Esta é a Alagoas que se vangloria de sua emancipação?
Somos tão não emancipados politicamente que em tempos de eleição para presidente da República há candidato que evita pisar estas bandas. A presidente Dilma, enquanto candidata em 2010, não tratou nosso estado como estado emancipado. Preferiu visitar a metrópole Recife e não a colônia Maceió.
Viva o 16 de setembro!
Que os servidores públicos, os alunos da educação básica e os demais “voluntários” que desfilam sob o sol escaldante e olhares impassíveis de autoridades possam inspirar nossa verdadeira e cotidiana luta por nos emanciparmos e nos tornarmos independentes.
Liberdade formosa que, mesmo tardia, gloriosa hosana entoe! Que assim seja!
http://www.youtube.com/watch?v=py0L989FFQw
Sigam-me no @weltonroberto