No Brasil de hoje – tirando os esquerdistas radicais, presentes nas universidades – protesto da esquerda só se for a favor do governo. As entidades de sempre, financiadas com dinheiro público, vão para a rua dizer amém ao PT. UNE, CUT, MST e congêneres são hoje o lado “povo” do poder e, portanto, não têm do que reclamar. Seus líderes enchem o bolso de dinheiro com convênios e repasses. Em troca, dão seu protesto a favor ou seu silêncio cúmplice.
Para essa turma, gritar “Fora FHC” não é golpismo, mas marchar contra a corrupção sem bandeiras partidárias é!
Alguns diriam que isso faz parte do jogo. Com a chegada ao poder, a esquerda brasileira continua na liderança dessas associações, que costumam se autodenominar “movimentos sociais”. Mas a verdade é que “movimento social” no Brasil não representa o povo coisa nenhuma. Isso ficou claro com os recentes protestos contra a corrupção.
Em Brasília, onde o protesto teve mais densidade, fala-se em 30.000 participantes protestando contra a corrupção. A importância da marcha pegou até os jornalistas de surpresa. Normalmente simpático à esquerda e ao governo do PT, o jornalismo tratou o evento com desdém. Nem chegou a dar destaque nos noticiários.
Mas isso é só a parte boa da história. A reação de alguns esquerdistas foi o que mostrou sua a face mais reacionária. Vejamos o que disse um dos blogues mais adorados pelos “progressistas”, o da tal Maria Fro:
“Cansei de procurar nas imagens da manifestação de hoje ‘contra a corrupção’ um não ariano, não encontrei”.
Hum! Que interessante! Maria não foi protestar. Ela preferiu catalogar as espécies e raças presentes na manifestação. Segundo ela mesma, só achou “arianos”. Que coisa! Maria Fro é mais uma dessas racialistas que os progressistas adoram. E daí, senhora? Se fossem só “arianos”, estariam eles proibidos de protestar? Vai criar uma comissão análoga à da Unb para classificar as pessoas pela raça? Que tal criar cotas para o cargo de manifestante.
O deputado ex-BBB Jean Willys também não gostou da marcha contra a corrupção e desdenhou dos manifestantes:
“Minha marcha é a do Grito do Excluídos; das Margaridas; dos sem-terra; do orgulho LGBT; do combate ao trabalho escravo e ao racismo”.
Da fala de Jean no Twitter e de suas outras postagens podemos concluir que uma coisa exclui a outra, não é? Se você é a favor dos “sem-terra”, você deve ser a favor da corrupção, e se é contra a corrupção, deve ser contra os “sem-terra”...
Esse Jean Willys está se mostrando um oportunista de carteirinha. Sua causa está deixando de ser igualitária para se transformar numa luta de “gays contra héteros”. É isso que lhe dá audiência. Sabe aqueles regimes autoritários que sempre estão “em guerra”? Isso justifica a importância da luta, entendem? Num regime de tolerância, Jean não teria o que dizer. Por isso está sempre em guerra. Todo mundo que discorda de Jean é chamado de racista ou homofóbico. É sua defesa contra tudo e contra todos.
Jean exercita aquela contradição típica das esquerdas fascistas. Povo só serve quando é a favor. O próprio Jean Willys afirmou que plebiscito sobre casamento gay não é interessante, pois o povo não é “bem informado” para escolher sobre essa questão. Lembram? Clique aqui para ver.
Mas agora ele se superou. Seu partido, é bom que ele saiba, surgiu de um inconformismo com os rumos tomados pelo PT, que expulsou dos seus quadros parlamentares descontentes com a safadeza e a canalhice política (parafraseando Heloísa Helena). Quem ele pensa que é para ridicularizar cidadãos brasileiros que saem às ruas para protestar? Quer dizer que protesto contra FHC pode, mas contra Dilma não pode?
Pois é, amigos. Essa é a esquerda que temos no poder. Só quem pode protestar é quem tem o aval das bandeiras vermelhas. Eles acham que são donos do “povo”. A tática, como todos sabem, é fascista. Forjar uma legitimidade majoritária e desdenhar das manifestações contrárias ao poder.
Para esse povo, o indivíduo não tem vez nem voz. Ele paga impostos, trabalha duro, mas não pode protestar, não. Tem que ficar caladinho e agradecer seu emprego ao PT. Como todos sabemos, tudo de bom no Brasil se deve a Lula. Tudo de ruim, a FHC.
São alguns de nossos esquerdistas: autoritários, populistas e simpáticos à José Dirceu. Triste.
E já tem gente preparando a ofensiva reacionária! Vem aí a “Marcha a favor da corrupção, desde que seja petista!”
Ps.: E a oposição? Diante de tantos escândalos, a oposição se faz de morta. O PSDB de Aécio Neves faz reuniões secretas com Eduardo Campos enquanto o DEM briga com os seus ex-aliados, que agora estão no PSD. Mais do mesmo. Nem apoiou nem deu repercussão aos manifestos. Nem liderou nem vai liderar nenhuma ação conjunta contra o governo. Afinal, são todos muito patriotas e querem o bem do país. Enquanto a oposição é covarde, o governo é voraz.
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