A constante lembrança dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em praticamente todos os cantos de Manhattan dá a impressão de que os novaiorquinos não superaram a tragédia. A imagem das Torres Gêmeas fumegantes do World Trade Center e a expressão "9/11" estão em boa parte das revistas nas bancas, em comerciais de TV, em anúncios de outdoor, na camiseta de pessoas na rua.

A onipresença do 11 de setembro na vida do novaiorquino faz parte do processo de superação dos ataques. Os moradores da maior metrópole americana fazem questão de relembrar o dia para que os visitantes da cidade tenham uma noção da dor que eles sentiram naquela data.

No entanto, dez anos depois da tragédia, não há sensação de luto. A impressão é de que o 11 de setembro virou um evento.

O Marco Zero, por exemplo, é, provavelmente, uma das construções mais visitadas do mundo. O local recebe centenas de turistas diariamente. O local parece uma ponto turístico como tantos outros da cidade, com visitantes dizendo "x" ao tirar fotografias ao lado de policiais, bombeiros ou empregados da construção.

"Todos os turistas brasileiros que levo para fazer city tour querem passar pelo Marco Zero. Eles fazem muitas perguntas sobre como foi o 11 de setembro", conta Alex Caetano, mineiro que vive há mais de vinte anos em Nova York e trabalha como motorista.

A transformação da área em atração turística não passa a impressão de falta de respeito com aqueles que morreram nos atentados. Muito pelo contrário, dá a sensação apenas de que a vida continua na cidade.

Além da constante lembrança dos ataques, outra mudança sofrida na cidade é o aumento da paranoia com a segurança. Em uma semana em Nova York, é possível notar que os americanos chegam a exagerar com medo de novos ataques.

No terceiro dia de entrevistas e filmagens na cidade, eu e o repórter cinematográfico Derek Flores entramos em uma estação de metrô próxima a Times Square carregando uma câmera de vídeo sobre um tripé.

Não queríamos filmar a estação, mas o policial que nos abordou não quis nem saber. Recebemos uma severa bronca do guarda que fez questão de anotar nossos nomes em um bloquinho de papel após verificar nossos passaportes.

O aeroporto, por razões óbvias, é outro lugar de paranoia. Para embarcar em um voo no JFK, enfrentamos uma fila imensa por causa da revista feita pelos agentes. Todos, idosos ou crianças, são obrigados a tirar o calçado e o cinto.

"Para quem mora na cidade, a presença da polícia se tornou algo normal. Não assustamos mais ao ver a tropa de choque entrar no metrô, por exemplo", explicou Caetano, um dos cinco personagens entrevistados para o especial dos dez anos do 11 de setembro produzido pelo UOL Notícias.

Todos os cinco se mostraram muito dispostos a conversar com a equipe do UOL Notícias, mesmo durante dias complicados para os novaiorquinos que sofreram com a passagem do furacão Irene.

O UOL chegou a Nova York no primeiro voo a aterrissar na cidade após o furacão. Manhattan não foi afetada pelo Irene, mas vimos estragos feitos em Long Island e em Nova Jersey.

Três dias após o furacão, algumas regiões de Long Island ainda tinham várias árvores caídas na rua, sofriam com a falta de energia elétrica e com enchentes que prejudicavam o transporte.

Para entrevistar o empreiteiro John Feal, que vive em Nesconset, enfrentamos três horas de viagem em um trecho feito, geralmente, em uma hora e meia de trem. Tudo por causa dos danos causados pelo Irene.

Outra impressão causada pelo furacão é que a cidade está mais preparada para tragédias, sejam elas naturais ou não. Nova York aprendeu a se unir com o 11 de setembro.