Juergen Stark, principal representante da Alemanha no conselho executivo do BCE (Banco Central Europeu), renunciou ao cargo por causa de divergências sobre o programa de compra de bônus conduzido pela autoridade monetária.

O BCE confirmou a saída da Stark, o segundo alemão a deixar o banco neste ano. Axel Weber, presidente do banco central alemão, já havia saído em fevereiro também por causa de sua oposição ao programa de compra de bônus.

Segundo o BCE, Stark renunciou por razões pessoais, mas duas fontes afirmaram à Reuters que a saída está relacionada à compra de títulos públicos feitas pela autoridade monetária, que vem ajudando Itália e Espanha desde o mês passado. Em resposta à renúncia, o euro e as bolsas europeias caíram.

A saída de Stark é um profundo golpe para o BCE, cujo presidente, Jean-Claude Trichet, encerra o mandato no final de outubro. Trichet será substituído por Mario Draghi, cujo país natal, a Itália, tem sido atacada pelos mercados.

"Isso é importante", disse Manfred Neumann, professor emérito de economia da Universidade de Bonn e orientador da tese do presidente do BC alemão, Jens Wiedmann.

"Stark tem a mesma visão sobre a compra de bônus que Axel Weber, e o atual presidente do Bundesbank. É uma posição que todos os alemães têm. É um sinal dos enormes problemas dentro do banco central. Os alemães claramente têm um problema com a direção do BCE."

Stark e Weidmann, junto com outros 2 dos 23 membros do conselho diretor do BCE, opuseram-se à retomada das compras de bônus pelo BCE no mês passado.

O BCE reativou o programa de compra após uma pausa de 19 semanas para ajudar a reduzir os juros para Itália e Espanha.

A preocupação do BCE, contudo, é de que ao comprar os bônus soberanos da Itália --terceira maior economia da zona do euro-- o banco só esteja encorajando o governo italiano a diminuir os esforços para sanear as contas públicas.

Stark, de 63 anos, era desde 2006 membro do conselho executivo do BCE junto com outros cinco integrantes. Seu mandato no cargo terminaria em 31 de maio de 2014.

TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA

O BCE havia anunciado no início de agosto que iria tentar acalmar os mercados comprando mais dívida pública de países da zona do euro em dificuldades no mercado secundário, onde são negociados os títulos já emitidos.

A instituição monetária de Frankfurt saudou os anúncios dos governos italiano e espanhol "relativos a novas medidas e reformas nos domínios das políticas orçamentárias e estruturais".

O BCE considera necessária "uma rápida aplicação" desses programas para melhorar a competitividade das economias dos países envolvidos "e reduzir rapidamente seus déficits públicos".

O BCE já havia anunciado a retomada desse programa de compra de obrigações, adotado no outono de 2010 (hemisfério norte) frente às graves dificuldades da Grécia, mas em ponto morto há mais de quatro meses.

Mas as declarações de seu presidente Jean-Claude Trichet levaram a entender que a instituição estava dividida a respeito dessa decisão tinha preocupado os mercados, assim como sua recusa em dizer se as obrigações espanholas e italianas estavam incluídas nessas compras.

Segundo parte da imprensa divulgou na época, os representantes da Alemanha no Conselho dos Governadores, o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, e o economista-chefe Jurgen Stark, em particular se opuseram a esta medida.

Mesmo que o BCE finalmente consiga superar suas disputas internas frente a uma ameaça de afundamento das bolsas, em razão também do rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos pela S&P's, ele manteve o pedido aos chefes de Estado e de governo europeus para que "honrem seus compromissos soberanos".

Ele também pediu que o FESF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) possa rapidamente intervir no mercado secundário, como havia sido decidido em uma cúpula em Bruxelas no dia 21 de julho.