Era metido à exorcista.
E a galã de novela.
Mesmo com “buchão” e mesmo sendo uma mistura de Russo com Grande Otelo, com sorriso do Tião Macalé.
Tirava “spritu”, dava surra em “encostcho”, metia tranco no “capeta”.
A “Casa do Descarrego” mantida por ele no bairro sempre lotava.
Dia de quinta era dia de “barão”. Na porta, só carrão de madame e “otoridade”.
Resto da semana era consulta paga, com sexta-feira de “atendimento social”.
Sentia-se o “Astro” da Ponta Grossa.
Fazia de “um tudo” na parte “espiritual”.
Em tempo de eleição, atendia político e “chumbeta”, cabo eleitoral e liderança comunitária.
Se o problema fosse “gaia”, dava esporro e enquadrava diabo que punha chifre em cabeça alheia.
Falta de emprego, de amor, de sorte ou de vergonha na cara não ficavam de fora do pacote.
Seu dom sobrenatural era “pau pra toda obra”.
E quando cobrava, barato não cobrava não.
Mas se fosse mulher e “jeitosa”, podia até dar “desconto” mediante “atenção” à luxúria acumulada da “entidade”.
Se contar que se o "atendimento" fosse nas sextas poderia ser até 0800, a depender do tipo de “descarrego”.
Pilantra de marca maior, Zeferino Milagreiro levava a vida na malandragem. De paranormal nada tinha. Em vagabundagem, astúcia e vigarice era PHD.
E sobre mulher, dizia cheio de orgulho e empáfia que nenhuma, nenhuma, nenhuma dava conta de sua macheza e virilidade.
Esta estava para nascer! Ou para aparecer!
Até o dia em que foi livrar a Sulamita, “cabritinha” de 18 aninhos, do “spritu do chumbrego” que tinha se “apossuído” da fogosa.
Foi o pai dela, Tonho da Mata Grande, matuto lá das bandas do sertão quem trouxe a “menina”.
Sulamita, recém chegada na capital, tinha até ganhado apelido no bairro: Machadão, já que derrubava tudo o que era de .... deixa pra lá!
Quando viu a Sulamita, endoidou o Zeferino. Gamou!
Na frente do pai da “moça” entronchou a cara, “arrevirou” os olhinhos, deu meio mundo de esparro, falou meio mundo de “mizifiu”. Incorporou o caboclo “Anel de Ouro”, “ispicialista” em fazer do desfrute um meio de santidade.
Pegou Sulamita pelo braço, deu uma “arreparada” na “aura” da morena. E que “aura” tinha Sulamita! Em especial a aura “traseira”!
E foi o caboclo incorporado quem decidiu que no caso da “cabritinha”, só trabalho pesado e demorado resolvia, feito na “sala ispiciá da possão de fé”.
Sulamita, já sabedora da fama de garanhão do exorcista, estava maluca para conhecer o tamanho da “possão” daquele profeta.
Tonho da Mata Grande, desconfiado, permitiu a entrada da “fia” na sala, com Zeferino já “fungando” no “cangote” cheiroso da morena brejeira.
Passaram mais de meia hora trancafiados na “sala da possão”. Só se ouviam gemidos lá de dentro.
Seria a “ichpulssão do ichcomungado”?
Haveria de ser! Não havia outra explicação!
E no meio da zuada estranha e misteriosa, ouviu-se um urro de dor, ou de prazer, na voz de homem. Vindo da voz do milagreiro em pessoa!
- UUUUUUUUUHHHHHHHHH UUUUUUUUUHHHHHHHHH UUUUUUUUUHHHHHHHHH!
Repentinamente a porta se abriu, cinco minutos depois do grito do cabra macho acostumado a dar pisa no “belzebu”, libertar gente humana do “puderíu” do “cramiuão” e não conhecer mulher que o “sastisfizesse”.
E era Sulamita suada, ajeitando o vestido de renda, saindo da sala vermelha e preta, com sofá cama no meio.
E Zeferino todo de branco, meio bambo, vindo atrás, andando meio torto.
E de perna entreaberta.
Porém com cara de felicidade indescritível!
Tonho da Mata Grande quis saber o resultado. O “spritu” teria ido “simbora”?
A “minina quenga” iria se tornar “minina santa”, rezar terço de novena e entrar no Sagrado Coração da igreja católica?
Zeferino, cansaço e relaxamento em pessoa, deu orientação.
A moça precisava de tratamento intensivo, com sessão semanal de descarrego. O pai podia trazer todo dia de sexta, no final do “atendimento social”. E podia ir embora quando a deixasse, que na manhã seguinte Zeferino devolvia a “quase santinha” já que o “lúcifri” em pessoa incorporado em Sulamita não tinha data para evacuar.
Tonho da Mata Grande chorou.
Sulamita, ria de safada que era!
E quando da saída, o pai inconsolável e a filha a rebolar, o “Astro” da Ponta Grossa deu a última recomendação:
- E na próxima semana seu Tonhão, só me traga a “Sulinha” aqui se for com unha da mão bem pequena viu. Bem cortada e aparada. Na raiz!
Enfim, uma mulher deixou Zeferino, o machão, muito satisfeito!
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