“Tinha envolvimento com drogas...”!

Esta é a frase superficialmente calhorda que embala o luto de milhares de famílias alagoanas.

Temos índices de criminalidade criminosos, com perdão da redundância proposital!

Somos o estado mais violento do país, onde mais se mata, onde mais se chora o sangue de vítimas de uma insana guerrilha urbana que aniquila vidas primordialmente de jovens na periferia de Maceió e nas maiores cidades do estado.

E a cada corpo que tomba a justificativa vulgar é uma só: “tinha envolvimento com drogas...”.

Abaixo à hipocrisia!

Só não vê quem é míope por opção! Ou talvez a miopia tenha outro codinome conhecido vulgarmente como incompetência!

Vivemos em uma das localidades mais miseráveis do país, reconhecida internacionalmente como símbolo de privação e de desumanidade social (triste realidade retratada pela reportagem da revista inglesaThe Economist, que nos nivela pelo nível abaixo de zero de um depauperado e massacrado Afeganistão...).

Nossas políticas sociais são praticamente nulas. Na cidade de Maceió são um prato cheio (ou melhor, vazio) para o riso cínico dos gestores municipais masoquistas, que ainda ironizam e debocham de nossa sociedade se dizendo devotos do “Padim Ciço” e de Jesus Cristo. No estado, então... “ai que sono....”, “que eu tenho ‘pressa’ para meu fim de semana no Barramar, não na Barra de São Miguel de verdade, repleta de pobres e descamisados.

No campo da educação, nossas escolas ou são cenários de verdadeiros atentados terroristas com tetos “em cascata” de fazer inveja à Al Qaeda (quase todo dia um desaba na cabeça de estudantes e professores indefesos). E haja desincentivo ao educador e ao educando. E haja a lorota oficial de várias gestões de que “os salários dos docentes de Alagoas estão acima da média nacional...”, como se a média nacional fosse o que a Suécia paga a seus professores.

Na segurança pública, então, é impressionante! E os municípios devem deixar da covarde molecagem de jogar a responsabilidade somente para o Estado. Polícia não é só na repressão, mas até isso falha em Alagoas. A tropa – em especial os não oficiais – ganha pouco e tem parca estrutura de trabalho. E mais: se o policial age dentro da Lei, mas com mais energia (não com abuso ou violação!), haja processo, inquérito, punição e castigo.

E na cultura, principalmente rumo à saudável “ocupação” de milhares de jovens e adolescentes? Qual opção nos resta?

Nenhuma!

Não tem cinema, teatro, dança, debate ou discussão produtiva.

E opções de trabalho, em especial para os mais jovens?

Aprendizado ou iniciação profissional também são escassos.

E acerca da dignidade negligenciada a quem é mais velho, mas principalmente quanto a quem está começando a vida? Recebemos, sempre, um recibo de incompetência generalizada. Ou seria uma miopia endêmica governamental? 

Aí diante deste cenário de terror, um jovem é trucidado na periferia.

Um rapaz ou uma moça são exterminados, muitas vezes em plena luz do dia, sob os olhos de multidões que se escondem e não testemunham, temerosas em ser tornarem as próximas vítimas.

Qual foi razão do crime?

Adivinhem!

Simples: ele ou ela “tinha envolvimento com drogas...”!

Só isso!

Simples e idiota!

O combate às drogas devem ser implacável e os viciados tratados como questão de saúde pública, com apoio social e psicológico a todos, inclusive aos familiares. Os crimes precisam de investigação e punição dentro da Lei, com pulso e justiça. Porém, antes de tudo, é necessário salgar o solo lamentavelmente ainda fértil que faz brotar bandidos e homicidas em nossa Alagoas.

Sem isso, qualquer justificativa aleatória é tão vilã quanto o ato de puxar o gatilho e descarregar o revólver seja em usuário, traficante, bandido ou gente inocente. E como  morre gente inocente por quase nada, ou por muito pouco, em nossa terra!

De fato, temos sim muito envolvimento com “drogas”!

E como temos!

A cada dois anos um coquetel delas, alucinógeno, entorpecente e radicalmente mortal, invade nossa televisão, expõe  escravos e escravas nas ruas com bandeiras infames de políticos e partidos e fazem “cadastramento” de eleitores “colaborando”com cédulas de real no dia da votação.

São drogas letais, com certeza, que surgem como epidemia. Quando? Em cada eleição.

Drogas que estão a nos matar aos poucos, de overdose de vergonha, de indignação e de repulsa.

 

 

 

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