Recentemente visitei o novo Núcleo Ressocializador da Capital, integrante do sistema penitenciário alagoano.
O Núcleo funciona no antigo Presídio Rubens Quintella, ex-São Leonardo, palco de uma carnificina ocorrida em 2001 que é exemplar da falência de nossa segurança pública, já àquela época cronicamente inviável.
Em 2001, 450 homens se rebelaram naquela unidade prisional. Cinco foram executados, sendo 2 carbonizados.
Com tinta de sangue e cinzas humanas se escrevia ali mais uma página da tragédia social que, há anos, acomete Alagoas.
Dez anos se passaram e eis que voltei ao lugar da rebelião. Os gritos dos presos, o desespero de familiares (a dor das mães, em especial, sempre tocante, única e indescritível...), o barulho das viaturas e o rugir das tropas de choque voltaram à minha mente em instantâneo.
Sons e imagens perturbadoras!
Pois bem, 10 longos anos se passaram. Foi o tempo preciso para que brotasse uma semente de esperança naquele solo aparentemente infértil, daquelas paredes assombradas pelo fantasma da injustiça.
Sim, porque bandido merece prisão e cárcere, dentro da Lei dos homens. Qualquer ameaça a esta premissa nos lança em uma perigosa zona de exceção. Se nem quem está preso não é respeitado pelo Estado, abre-se uma perigosa janela para a violação de direitos, inclusive dos que fora das grades estão.
Punição rigorosa, legal, justa e ágil, sim! Genocídio e violação da condição humana, não!
Confesso que visitar aquela unidade prisional 10 depois me causou emoção. Por vezes contive as lágrimas.
Isto porque vi, realmente, uma nova vida se abrindo à humanidade, como uma flor no deserto de nossa cegueira, do “salve-se quem puder” que se transformou nosso cotidiano de banditismo social.
Acredito piamente na recuperação do homem através de fomentos de cidadania, dignidade, respeito e oportunidade. Não enxergo que o destino seja traçado ao nascermos. Acredito que ninguém nasce bandido.
O Núcleo Ressocializador da Capital é um lugar arejado, asseado ao extremo, com uma arquitetura carcerária que se preocupou em dotar o ambiente não só de segurança, mas também de harmonia e serenidade.
Não parecia nem de longe o cárcere de outrora.
O fétido “cheiro de presídio” ali não existe.
As celas são organizadas, os banheiros extremamente limpos, as camas arrumadas com lençóis em perfeita simetria.
Tudo realizado pelos detentos.
Hoje são 39 os reeducandos que se encontram sob a experiência do chamado Módulo do Respeito, uma nova filosofia humana de tratar o condenado. A capacidade total é para 150 presos.
Conversei com detentos que se encontravam efetivamente trabalhando nas oficinas de marcenaria, serigrafia e costura, como prevê a legislação de Execução Penal.
Visitei as salas de aula com homens realmente aprendendo algum ofício, em laboratórios preparados para aprendizado de hidráulica, construção e elétrica...
Núcleo Ressocializador da Capital: uma experiência louvável, digna de estímulo, aplauso e reconhecimento.
No Brasil a sociedade precisa entender e compreender que por opção humanitária não temos nem pena de morte, nem prisão perpétua.
Logo, um condenado um dia voltará ao nosso convívio.
Que ele volte então um trabalhador e um semeador de boas práticas, para que seu passado não continue a reverberar em seu presente e não turve o seu e o nosso futuro.
Já que a estes homens e mulheres muitas vezes têm seus presentes e futuros anulados, sonegados, negligenciados... quando não se tornam criminosamente inexistentes.
Em tempo: estamos em campanha para arrecadar brinquedos para os filhos dos detentos e para montarmos um playground no cárcere para as crianças, a fim de que os pequenos e as pequenas possam, além das grades, também enxergar uma nova vida. A festa de entrega será no dia delas, dia 12 de outubro, Dia das Crianças. Querendo colaborar sejam bem vindos!
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