A divulgação das imagens em desenho de algo citado como projeto de VLT para a Fernandes Lima soa como um deboche para com a população de Maceió.

É um acinte e uma agressão contra a inteligência alheia. É considerar a sociedade maceioense desprovida de senso crítico, de capacidade de raciocínio e de direito de indignação.

Acho que falaram assim: “é tudo um bando de ‘ignorante’ ‘analfabeto’. Vamos colocar  a imagem de Jesus? Que nada, guarda o “ômi” para a campanha do ano que vem e coloca a do VLT mesmo. O povo é besta!”

É lamentável a estratégia de marketing do governo municipal.

Claro que todos nós sonhamos com a execução de um projeto futurista como aquele em nossa cidade.

Mas, como no desenho animado dos Jetsons, aqueles rabiscos visionários arriscam a só se materializar na ficção pseudo-centífica  de uma administração pública, no mínimo, infantil.

Ora bolas, o malfadado projeto do VLT há anos gestado em Maceió não conseguiu sair ainda dos traços do urbanista.

Não conseguimos sequer colocar de forma integrada o Veículo Leve Sobre Trilhos onde já existem estrutura, via pública desimpedida e, justamente, trilhos: no caminho que começa em Jaraguá e vai até Rio Largo.

Ah! A culpa é da Feira do Passarinho!

Ah, conta outra!

Minha gente, parem o mundo que eu quero descer do VLT!

E agora a prefeitura sai com esta imagem bonitinha mas ordinária e insolente, escárnio diante de nosso transporte coletivo de ônibus miseráveis, desconfortáveis, com tarifa cara, malcuidados, inseguros, sem pontualidade, tetânicos em ferrugem, insalubres em manutenção e precaríssimos em qualidade quase nula.

Sardinha em lata anda mais folgada e gado em carreta circula com mais dignidade do que os homens e mulheres que se humilham nos coletivos de nossa cidade.

Tartaruga é Usain Bolt e quem é doido ou se cura, ou se suicida na Fernandes Lima. Seja de carro, seja de “busão”.

São Paulo já caiu em lorota semelhante. Foi na gestão do finado prefeito Celso Pita, nascida na administração do (ainda) vivo Paulo Maluf. Tratava-se do Fura Fila, um Veiculo Leve Sobre Pneus que prometia realizar até “teletransporte” na maior cidade do país.

O Fura Fila foi proposto em 1995 na trágica era Maluf, servindo somente para ajudar a eleger o desastroso Celso Pita. A primeira estação e o primeiro trecho do “milagre” com míseros 8,5 km de extensão só ficaram prontos em 2007, na gestão Marta Suplicy, sem ninguém “relaxar e gozar”, 12 anos depois. Custo da brincadeira: R$ 600 milhões. Na gestão Kassab o projeto foi, pela enésima vez, “redimensionado” com licitação de R$ 2,46 bilhões e previsão para entrega em 2015.

Em Maceió, teremos este fôlego e vivenciaremos esta covardia?

Já passa da hora de os gestores alagoanos pararem de fazer graça. Ainda mais quando a graça não tem graça nenhuma.

Só para relembrar: e a virtuosa duplicação da AL 101 Sul? Quando ficar pronta no ano de 2238 será uma ótima ciclovia para bicicleta supersônica. É bom, porque Alagoas Tem Pressa! Ôôôô.... que sono!

No entanto, voltemos ao VLT da Fernandes Lima.

E em síntese, tenhamos vergonha na cara.

A prefeitura de Maceió herdou várias bombas da gestão passada. Entre elas a (In)Fernandes Lima (o trocadilho não é meu!).

Na campanha de 2004 prometeu-se “mundos e fundos”: era Pólo Integrado de Turismo que nem o de Sidney na Austrália, era Marina em Jaraguá igual a do principado de Mônaco, era Eixo Viário Vale do Reginaldo parecendo autopista em Munique na Alemanha, era Salgadinho mais lindo - e limpo - que o Rio Sena em Paris.

Em resumo: fez-se um viaduto da Xuxa (só para veículos baixinhos), duas passagens de nível (obras de destaque frente à mediocridade da gestão anterior, ressalte-se, que demorou um século para fazer o viaduto do Poço...), pintou meio fio, cortou grama, calçou rua sem saneamento. E foi reeleito com assombro.

Mas esta gestão que já tem quase 7 anos não fez a licitação de transporte público e não dotou a cidade de ônibus dignos. Não redesenhou o fluxo de carros na cidade e não projetou a capital para o futuro que já chegara (vou fingir que me esqueci das diversas acusações de corrupção...).

O Eixo Viário ligando a parte baixa da cidade à parte alta, real alternativa ao sufoco da Fernandes Lima, até hoje é um moribundo projeto diluído na fracassada intervenção no Vale do Reginaldo. Lá, Estado e Município dão prova de inoperância e se digladiam em tabajarice. A construção de Brasília foi mas rápida que a de uma dúzia de prédios populares, escola, posto de saúde e uma avenidazinha no vale (que vai ligar o nada a lugar nenhum...).

Aí o sujeito cidadão comum ganhou um dinheirinho e comprou um carro em 2.600 vezes, realizando o sonho de se inserir na sociedade de consumo.

Pronto: o culpado pelos engarrafamentos que nos irritam e nos atormentam seria quem financiou seu automóvel usado ou zero quilômetro, já que “tem carro demais andando nas ruas...”

PelamordeDeus!

O culpado pelo congestionamento crônico em Maceió são, oficialmente, os gestores de competência duvidosa que abandonaram a cidade à selvageria do trânsito que nos faz perder horas para percorrer vinte quilômetros em linha reta.

É revoltante!

Não queremos imagens, fotografias, xilogravura ou animação de boneco caipira ou sertanejo com chapéu de palha falando matuto na TV.

Queremos uma solução para o caos do tráfego de veículos em Maceió. E além de solução, queremos respeito ao povão que anda de ônibus pagando caro, mas que só é lembrando na época de se pedir voto.

Maceió não mudou! Infelizmente!

Por fim, algumas perguntas?

Quanto vai custar o VLT da Fernandes Lima? Quem vai financiar? Quando começam as obras? Quando terminam? Qual critério técnico para a adoção desta alternativa em transporte? Qual o prévio estudo realizado? Qual o impacto ambiental? O canteiro com árvores será deCEPAdo? Qual a escala entre o desenho e as dimensões reais da área a ser construída? O vagão será da largura da calçada, ou seja, fininho que nem tripa de porco (que beleza, alia-se assim transporte público de qualidade ao combate à obesidade)? E os cruzamentos da avenida, como ficarão? Venho da Centenário e quero ir ao Pinheiro. Vou fazer retorno na Polícia Rodoviária Federal ou no aeroporto? (Ah, já sei, como Cristo está no comando e o "Padim" Ciço é o co-piloto, vamos fazer esta conversão pelos céus, escoltados por anjos!)

O VLT é a melhor saída para a cidade?

O VLT é a saída que queremos?

Ou a que precisamos?

Aliás, quais seriam as outras possibilidades?

Não nem quero tumultuar, nem ofender, nem denegrir.

Mas estamos cansados se sermos tratados como amebas.

Ou como idiotas!

 

 

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