Em julho o rendimento médio real habitual (descontada a inflação) subiu 4% na comparação interanual pelo terceiro mês consecutivo, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego divulgada nesta quinta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A elevação ocorre enquanto outros indicadores de atividade mostram desaceleração, especialmente na indústria, com recuo em produção e emprego, e estoques do setor acima do desejado.
Em relação a junho, o aumento da renda do trabalhador foi de 2,2%. Ela atingiu R$ 1.612,90 no mês passado, o maior valor para julho desde 2002.
Em análise, a LCA Consultores afirma que o crescimento interanual de 4% da renda em julho é "ainda mais representativo" do que o observado em maio e junho, pois o mês passado tem uma alta base de comparação. Em julho de 2010, o rendimento médio havia crescido 5,1% sobre igual mês de 2009.
Para a consultoria, a sustentação do crescimento interanual do rendimento médio real no mesmo nível desde maio "torna ainda mais arriscada a manutenção da Selic [a taxa básica de juors] no nível em que se encontra atualmente".
A LCA observa que o rendimento crescia entre 6% e 7% nos últimos meses de 2010, taxa que chegou a desacelerar para 1,9% em abril deste ano. A partir de maio, no entanto, ele se encontra crescendo no mesmo patamar, o que indica "robustez do mercado de trabalho, a despeito do arrefecimento dos indicadores de atividade".
Em relatório, a Corretora Concórdia também ressalta a força do mercado de trabalho, que "reflete a baixa ociosidade de mão de obra em diferentes setores da economia, o que facilita negociações salariais e força as empresas a concederem aumentos reais de salário na busca por novos empregados".
Na avaliação da corretora, os indicadores de emprego "pesam sobre o cenário prospectivo de inflação". "Eles são elementos de forte pressão sobre a demanda doméstica e, consequentemente, sobre a trajetória dos preços", sustenta a Concórdia, que projeta taxa média de desemprego de 6,4% para 2011.
Na previsão da Rosenberg & Associados, "o rendimento médio real deverá continuar duplamente beneficiado nos próximos meses pela inflação sazonalmente mais baixa e pela pouca disponibilidade de mão de obra". Segundo a consultoria, "a melhora da qualidade do mercado de trabalho [formalização] em conjunto com a maior utilização dos recursos [aumento da razão população ocupada/população em idade ativa] são sinais de que o preço do trabalho [renda] deve continuar elevado no segundo semestre do ano.
A Rosenberg ainda cita dissídios de categorias importantes na segunda metade de 2011 e a escassez de mão de obra como fontes de "altas reais expressivas" no rendimento.
"Em suma, o mercado de trabalho continua se constituindo numa fonte de sustentação do consumo, importante para evitar uma desaceleração muito brusca da atividade doméstica, mesmo caso haja uma piora mais contundente no cenário internacional", avalia a consultoria.
SERVIÇOS E COMÉRCIO
Os serviços e o comércio continuam puxando o crescimento do rendimento médio dos trabalhadores.
No setor de comércio, reparação de veículos e objetos, a renda aumentou 6,1% entre julho e igual mês do ano passado. Nos serviços domésticos, a expansão foi de 5,9% e em outros serviços, que representa hotéis, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais, o avanço interanual foi de 5,1%.
Em igual ordem, o aumento do rendimento no emprego industrial também fica acima da média, mas é bem menos expressivo do que nos segmentos citados acima.
Em relação a julho de 2010, foi registrado crescimento de 4,6% na renda dos trabalhadores da indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água.
Abaixo da média nacional, estão os setores de educação, saúde e serviços sociais, com aumento de 3,2%, construção, cuja renda cresceu 3,1%, e serviços prestados à empresa, com expansão interanual de apenas 0,3%.