Brasília – Lá pelos anos de 1600 um poeta – ou seria profeta? – escreveu o soneto que diz assim:

Nesse mundo é mais rico quem mais rapa
Quem mais limpo se faz tem mais carepa
Ao nobre a língua o vil decepa
E o velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o brio na nobreza o mapa
Quem tem mãos de agarrar ligeiro trepa
E quem dinheiro tiver pode ser papa.

O autor é Gregório de Mattos e imagine os senhores que não se trata apenas de poesia, mas de profecia em métrica.

Por falar a verdade e desmascarar a hipocrisia, Gregório de Mattos tornou-se poeta maldito; um intelectual marginal – o que, aliás, ele não se importava e até parecia se esforçar para demonstrar sê-lo em todos os sentidos da vida.

Nos recentes episódios com a queda de ministros que se comportaram mal, o que deve ser levado em conta não é o tamanho da corrupção, mas a freqüência como ela se repete.

Não há nenhum cuidado, nenhuma preocupação, é como se tudo fosse absolutamente natural. Superfaturar obras, desviar dinheiro público, é como se tudo fizesse parte de um sistema destinado a funcionar assim.

No máximo o que pode acontecer é uma algema aqui, outra ali, e alguns dias numa cela da Polícia Federal e depois cai tudo no esquecimento. E se o envolvido desfrutar da “impunidade parlamentar”, então bote esquecimento nisso.

Não quero com isso dizer que a corrupção é uma invenção, ou um mal, exclusivamente brasileiro. Não é. A corrupção está na Bíblia, quando Judas Iscariotes, que era o contador de Jesus e lidava com o dinheiro Dele, se corrompeu por 30 moedas.

Mas, a situação no país tende a diferençar pela carência de indignação da sociedade; de ordinário, assiste-se o noticiário sobre corrupção e corruptos como se fosse algo absolutamente natural.

E como a moralidade não foi restaurada, a idéia que fica é que todos estão se locupletando ou aguardando a oportunidade de se locupletar.