A idéia da legalização do trabalho extra do policial, quando estiver de folga, e que ficou conhecida como “Bico Legal”, é uma casca de banana para a categoria que se diz cansada e exige a redução da carga horária de trabalho.
Estressante por natureza, o trabalho do policial encerra ainda o “risco de morte”. E no momento de folga, quando deveria estar descansando, o policial poderá “fazer bico” num trabalho extra.
Ora, esse trabalho extra, ou seja, o “Bico Legal”, não é em função da segurança pública, em defesa do bem público ou da sociedade, mas em retribuição a quem lhe contrata e paga. O “Bico Legal”, trocando em miúdos, é a privatização do serviço público e aí – acho eu – está a ilegalidade, além de que nenhum trabalhador pode se privar do descanso e das férias – ainda que queira.
Sendo assim, o “Bico Legal” significa que o policial não poderá “molhar o bico” nem mesmo estando de folga.
E se durante o “Bico Legal” o policial se envolver num confronto armado e desse confronto resultar um óbito como é que fica?
O policial vai alegar que estava a serviço do Estado e agiu em “legítima defesa”?
E se for o policial que morrer? Quem vai indenizar a família? O Estado ou o negócio privado para o qual estava “fazendo bico?”
O “Bico Legal” significa o fim da luta do policial pela redução da carga de trabalho e o fim do discurso contra a “escala apertada”.
É ou não é?
QUANDO A TERRA PARAR
Na Economia tem uma lei antiqüíssima, muito mais antiga do que Adam Smith, que se chama a “Lei de Grisham “ – que diz assim: “Quando num país houver duas moedas circulando, a moeda boa (forte) expulsa a má (fraca).
No passado recente nós brasileiros vivenciamos os efeitos dessa lei tão antiga. Quem tem mais de 40 anos se lembra que no Brasil circulavam três moedas: o cruzeiro, o dólar e a URV.
As pessoas estavam condicionadas a fecharem negócios usando o dólar ou a URV; eram essas as moedas que corrigiam aluguéis, embora a URV fosse apenas uma Unidade de Referência, ou seja, não circulava nem tinha “curso forçado” igual ao dinheiro comum.
Pois bem: vieram os Planos Cruzado, Bresser, Collor e o confisco da poupança até o Plano Real expurgar as moedas concorrentes e fixar uma moeda forte.
O Brasil resolveu o problema da “Lei de Grisham”, mas o mundo assiste os efeitos dessa lei ameaçando a poderosa economia dos Estados Unidos.
Que falta faz o meu saudoso professor de Economias 1 e 2 na Ufal, Luiz Fernando Oiticica Lima, o “Nenem”, como era cariosamente chamado. Se vivo fosse hoje eu iria perguntar a ele que, com certeza, me tiraria a dúvida:
Professor: no mundo tem duas moedas de troca: o dólar e o euro. Quem é a moeda má (fraca) que será expulsa pela moeda boa (forte)?