Estava decidido a se vingar. Iria dar fim aquela “mulé infilisssss”!

Tiãozinho Bento iria colocar ponto final no sofrimento de quase de década de cabeça pontuda.

Foi na feira de bugiganga roubada e comprou um “treizoitão” de registro raspado. Estava pronto para matar. Não tinha reza no mundo que o fizesse mudar de ideia.

O motivo: Cicinha estava de biscate com o Ricardão Maromba, moreno bombado, motorista do disk gás e paquerador a mil. Tiãozinho vira, pegara no flagra o “pé de pano” com a mão nas partes desejantes da senhora.

Tudo bem que, supostamente, teve outros... Muitos... O Joca da Farmácia, o Bello, o Jurandir bancário, o Pedro pedreiro... Mas era tudo “malêdissenssa” daquela gente “futriquêra e infilisssss”, na cidade de gentalha sem ter o que fazer, desocupada e bisbilhoteira.

Sua decisão não tinha retorno. A cena não saia de sua cabeça! Ricardão alisando a Cicinha, e o pior: dentro de sua própria casa. Sem o menor respeito e sem a menor “cirimônia”. Pegando logo na “pelanquinha totosa” da esposa amada amante.

Planejou tudo. Iria voltar ao cenário do crime, armado, e dar cabo à vida da “gaêra” e  mandar "prusinferno" o espertalhão.

Marcou data, jogou “caô”. Iria viajar a trabalho, “sirvisso” da maior relevância para a “impreza”. Não podia deixar Seo Agenor, o patrão, sem os préstimos do funcionário.

Sabia que era ela botar o pé fora, para Ricardão botar o “negócio” dentro, bem dentro, "infiado" mesmo. Saiu de casa com maleta na mão, beijinho na boca e jura de amor: “Te amo Tetéia”, dizia ele, com cinismo e premeditação dos cornos homicidas.

Não deu outra. Foi ele sair para Cicinha se esquematizar. No dia seguinte seria festa na casa do traído, tudo bancado pelo oficial para alegria do “regra 2”.

Na verdade, Tiãozinho não viajou nem nada. Ficou na pousada de Maroca, acoitado e de espreita. Como todo mundo sabia do lado “rufião” e “malino” da esposa, a torcida era grande por um corretivo na safada.

No dia seguinte, acordou com vontade de matar, com olhos encarnados de fúria. Levantou-se e nem café tomou. Sabia que Ricardão passara a noite no lugar que era seu. No calor dos seus lençóis, apertando a “pelanquinha” e outras coisas mais.

Saiu do hotel feito um touro, literalmente. Imaginava as “semvergonhices” dos dois, às suas expensas, em especial em moral. Que esculhambação! E o menino que ela perdera? Seria dele ou do outro? Quem sabia? Lembrou-se do ditado de sua vozinha: " Filhas de minhas filhas netas minha são, dos meus filhos serão, ou não?"  Ficou enfurecido...

E as “maquilagem” e vestidos rodados que exibia? Seriam comprados com a renda de representante de cosmésticos dela, ou seria presente da “homarada” que se fazia presente?

Tudo se encaixa agora, no trajeto até o local do crime. As noites sem chamego motivados por “dor de cabeça”, o “ichstréssss” persistente, e, pasmem, o ciúme exacerbado e de certa forma dissimulado da esposa.

Chegou na casa e do jardim já escutava os sussurros e os gritos de devassidão. Era a prova sonora do adultério. E que prova! Pelo “clamor” da vítima, Ricardo dava esculacho.

Ficou roxo de raiva, abriu a porta de mansinho, adentro em passos lentos e silentes. Olhou entre a fechadura. Viu a cena de luxúria: ambos nus, Cicinha de quarto para o ar, Ricardão de joelhos . A mulher recebendo tapas do amante. “Mãozada” da forte. Tudo alternado com cinturão, apertão e beliscão. Cicinha era só gemido: uiuiui uiuiui uiuiui uiuiui uiuiui uiuiui uiuiui!!!

A raiva de Tiãozinho se elevou ao cubo! Ira de titã!

Foi quando meteu o pé, derrubou a porta. O casal em plena libidinagem travou no ato. Ricardão, um metro e noventa, virou anão quando viu o 38 carregado e com ponta de fogo. Cicinha ainda ensaiou um “não é nada disso que "ocê tá"  pensando, momôôô!!!!”

O traído não pensou duas vezes! Apontou o revólver e descarregou, com gosto!

_ “Pow”, “pow”, “pow”, “pow”, “pow”, “pow”...

Na cabeça de Tiãozinho, enfim, fez-se justiça.

Afinal, não se tratava de caso de cornagem. E sim de covarde espancamento!

Os tiros dados para o alto furaram o teto, mas assustaram o “valentão” agressor de “mulé” indefesa, que saltou pela janela e se livrou, pelado e em fuga, pelas ruas do lugarejo

Tiãozinho decidiu: daria queixa depois na delegacia, com base na “Maria da Penha” e tudo mais. Salvou a mulher da "surra" do covardão. Encheu o peito e suspirou aliviado.

Estava convicto de que não viveria sem “a pelanquinha infilisssss”.