Emprestei um livro sobre a história da imprensa alagoana para o companheiro e jovem jornalista Wadson Correia pesquisar para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A colega jornalista Gilca Cinara, aqui do Cada Minuto, o folheou e se surpreendeu com a manchete de um jornal de Maceió de 1979.

- Bob! E já existia isso naquela época? Eu nem era nascida...

A Gilca referia-se à manchete que diz assim: “Final de semana violento em Maceió: 14 mortos”.

O que já existia como manchete dos jornais locais dez anos antes da Gilca nascer, ela está lendo hoje 32 anos depois como se fosse o mesmo redator a escrever a matéria.

Pois é Gilca; não é a história que se repete. É o quadro que ninguém modifica porque, não se iluda, a violência já faz parte do show. Deixaram que isso acontecesse. Veja o caso de uma jovem baleada na barriga num show em Santana do Ipanema e me diga: por que alguém vai se divertir com uma arma na cintura?

Porque, apesar da lei que proíbe o porte de arma, dá-se sempre um jeitinho para burlá-la. Foi sempre assim.

Recebi um e-mail dizendo que o acusado de ter matado a jovem no assalto à farmácia, na semana passada, já praticou antes dois crimes de homicídio no Vergel do Lago. Não sei se é verdade, mas também não posso duvidar.

E por falar sobre a jovem morta, alguém sabe me dizer se alguém sequer mandou flores para o tumulo? Ou um telegrama de conforto à família? Um telefonema, qualquer manifestação de solidariedade?

Ou a jovem é apenas mais um número da estatística da violência que se esquece após o sétimo dia e que não merece nada além da indignação momentânea?

É por isso que a companheira Gilca Cinara se surpreende ao ler hoje, 32 anos depois, a manchete que os jornais publicavam 10 anos antes de ter nascido e exatamente igual – só muda o numeral; tem semana que é 14, outra 19, mas o redator parece o mesmo.

Viva pois, a violência, porque ela dá mote para a hipocrisia deitar falação e fazer loas sem respeitar os cadáveres alheios.