Seu nome era Posidônio Adolfo Juquitiba Neto, ou “Sidoninho Bomba” para os íntimos.
Vivia com grandes afazeres entre visitas ao Orkut, audiência seletiva na faixa cultural da TV ligada sempre no Sex Hot de dia ou no “pograma” da Luciana Gimenez à noite, além de farras com a “galhera”!
Este era o esforço do rapaz para tentar ocupar suas ociosas 12 horas, já que as outras 12 ele aproveitava dormindo em sono profundo, na “maromba” e tomando “bomba” na academia, com pausas longas para bate papos acalorados no msn recheados de frases contundentes e profundas como “wlw, d+ tc c/ vc” ou “pow me add brow”.
Seu pai e sua mãe, de classe média alta, burguesia das Alagoas, rezavam para que um dia o filho pudesse acordar para a vida e se transformar em um “dotô”!
Mas já ia com seus 35 anos de vida, e nada! Era só vaquejada, som de carro no alto volume do estilo trio elétrico de babaca, cachaçada e mulher, muita mulher (todas “camarão”, sem cabeça, como ele)...
O “bróder” era descolado, ninguém ousava falar mal do fanfarrão, do “chapa” da “galhera”.
Era realmente gente boa, engraçado, extrovertido e perspicaz.
Livros?
- Não, obrigado! “Valheu”!!! Respondia, sempre, Sidoninho Bomba.
Tentou ler o “O Diário de um ‘Mago’”, do Paulo Coelho. Mas se recusou na página três e pensou até em ir ao Procon. Foi “na onda” do vendedor da livraria e pensou que aquele fosse um livro sobre combate a obesidade. Foi na época do seu sobrepeso, pré-malhação, e ele, “mágu”, nada estava...
Um certo dia estava em casa, dormindo, umas 11 da manhã, “plena madrugada”...
Aí, de repente, acordou, “de rango, véio!”, para variar.
Ligou a “net” e procurou no “gúgou” o fone da lanchonete “Direitão”. Era o melhor “passaporte” da cidade!
Mas se “enrolou” na busca e anotou, sem querer, o telefone de uma “faucudade” de Direito. Quando ligou e pediu um “passaporte”, mandaram ele ir lá levando qualquer documento com foto, sem precisar ser documento de viagem internacional.
Compareceu e, para sua surpresa, saiu “acadêmico”.
Resistiu com a atendente, disse que já “puxava” ferro e não queria outra “acadchimia”, mas ela explicou que, lá, ele faria “direito”.
- Ué, ãããããããããhhhhhh! Num to intendendju!!! Ããããããããããhhhhhhhhhh???? Ahhhh bom! Respondeu!
Foi o início de uma saga!
Mãe e pai em prantos, orgulhosos do filho futuro “dotô”, ficaram boquiabertos com a surpresa proporcionada pelo filhão, quando este contou o feito aos genitores.
Antes do “Direitão”, Posidônio jamais tinha percebido que aquele prédio da “faucudade” não fosse um rodízio de carne, porque passava e só via “churrasquinho” e gandaia na esquina...
Mas desfeito o mal entendido, o rapaz correu para preencher a matrícula junto com pai, mãe, tios e avós, que fotografaram o grande momento.
A família fez questão de publicar na coluna social do maior jornal da cidade a grande conquista do garoto prodígio.
Seria realmente um “dotô”.
Dali em diante passou a falar com “data vênia” e tudo mais. Embora não soubesse bem o que aquilo significasse, mudou o linguajar. Saíram as “lhombras”, para entrar os “jus judicantis vigarices cachacis”...
No primeiro dia de aula Posidônio entrou em uma sala com mais 80 bravos neófitos das Ciências Jurídicas.
E o dia era puxado.
Começava cedo às 8 (ahhh, 9 horas, vai, “fuleraje”!...) da manhã e terminava às 11 horas (poxa, to “exjaustcho”, moral!, 10 e meia tô fora....), também da manhã, afinal ninguém era "Caxias".
Depois disso era internet, TV e as farras que agora passavam a ter caráter “universitário”.
Estudar?
Não ainda, já que não era obrigatório, e já que sua fama de descolado e bom conversador lhe rendia sempre boas notas.
Provas em grupões lhe garantiam sempre 8, 9 e 10!
E nas que perdeu teve direito a ré(cuperação), reré, rereré, quadriré, pentaré, marcha ré, final, última, prorrogação, “rapidinha”, “picote”, degola, guilhotina e... Conselho de Classe...
Reprovar o Doutor Sidoninho, aquele “garotcho ispértchiu”?
Por que?
Ainda mais, ele pagava em dia! Boleto sempre quite!
Quanto aos professores da “faucudade” eram sempre experientes, quase ministros do STF, segundo a propaganda eficiente da instituição... os “mais-mais” do mercado.
Havia sim os abnegados, mas alguns, a maioria, estavam ali somente para ostentar o “status” de ensinar através de fichas pré-preparadas, que noticiavam desde a existência do código de Hamurabi até a era cibernética do Direito.
E tinha os “preguiçosos” que pegavam tudo em grandes fontes doutrinárias do Direito Intergalático: Wikipedia e site do Zé Moleza...
Posidônio, arrochado, logo percebeu que alguns deles sem aquelas “fichinhas” sabiam pouco mais que quase nada e um dia resolveu brindar a turma com o “sumiço” das fichas.
O professor, emudecido pela peraltice, disse que naquele dia com o “sumiço de sua aula” iria mudar o rumo da prosa para um novo ramo do direito, o Direito Desportivo!
E discutiram amplamente a derrota da seleção brasileira nas Copas de 2010 e 2006.
Sentenciaram ao final que a culpa foi de Felipe Melo, com autoria intelectual do Dunga! Pronto!
E Sidoninho foi brilhante na defesa da tese da culpabilidade do meião do Roberto Carlos em 2006. Defendeu “pena de morte” para o artefato. No júri simulado, propuseram paredão e a meia seria metralhada em praça pública.
Professor quase em lágrimas aprovou todos com um 10 de louvor por tamanha descoberta científica, merecido por aqueles promissores futuros juristas do século XXI!
Formatura chegando, Sidoninho já sentia o próprio “majistrado” brasileiro. Suas notas falavam por ele!
Seu TCC foi nota 10! O título, pomposo, objetivo: "Da Causa Julgada ao Julgo Obsolescente da Conduta Criminal, Patriarcal e Tributária mediante Mandado de Segurança Litigante e Embevecido Impetrado Argüísticamente Sedento de JusBeligerância na Corte Suprema: Um Estudo de Caso no Direito Comparado na Órbita do Direito Civil, Eleitoral, Público e do Consumidor, da Sucumbência do Litisconsorte Fato Jurídico Data Venia às Demandas nos Tribunais".
O conteúdo? Um "frankstein" tirado do Google por ele e "editado" por uma "graninha" extra pelo filho do Tonhão Borracheiro, este sim menino de ouro, aprovado na primeiro vestibular federal que fez! Tudo Crtl C e Crtl V!
Aposição de placa, colação de grau, aquela “rasgação” de seda. Formatura com festança no maior espaço multiuso de Maceió, fotos de toda a turma pendurada, “tequileiro maluco” ganhando dinheiro para balançar cabeça e muitas danças dos quase“adevogados” no palco...
Os donos da faculdade, diretores, coordenadores e supervisores enalteceram a preparação durante aqueles “árduos” cinco anos na “melhor instituição de ensino do universo”, ressaltando a felicidade por todos os 80 alunos estarem preparados para o mercado.
No dia seguinte à formatura, já chegou na casa de todos o boleto da matrícula automática na Pós-Graduação (!) ofertada pela instituição de ensino superior.
Sidoninho matriculou-se no ato. Seria Bacharel Pós-Graduado. Como se sentia a frente de todos, ligou para a instituição em busca de uma "Pré-Graduação", já que não queria ficar para trás... mas como não tinha, contentou-se com a Pós mesmo... Ah! Mestrado e Doutorado também faria... no Paraguai, de preferência...
Na semana seguinte, era o Exame da OAB.
Na véspera, Sidoninho encheu a cara de “mé”. Tava dentro!
Prova? Que prova? Já tava aprovado!
Foi fazer o teste todo confiante!
Chegou em casa todo prosa! Fechou a prova! Um massacre na folha de respostas! Os pais choraram mais uma vez!
Era o menino Sidoninho, regenerado, “dotô” em “adivôcassia”.
Dias depois o resultado: entre 10 candidatos inscritos, 9 foram reprovados!
E Sidoninho, o Bomba, estava sim dentro, mas tendo desta vez ele mesmo levado "bomba"!
Como isso foi possível? Fraude? "Bisú"? Demência?
Família revoltada, faculdade em polvorosa com a divulgação de seu “brilhante” desempenho.
“Dotô” Posidônio escreveu uma carta ao diretor exigindo uma atitude enérgica contra aquele absurdo.
“Presado Sinhô diretor,
Poço até está equivocado, data venia, mais como Voça Incelência Direitista Jerencial de nossa YES bem sabe, fui um dos mais brilhantes e riluzentes alunos desta respeitada instituissão di insinu, amparado nas tiorias do jus picaretius e jus malandratius de sua faucudade, tendo sempre pagado as mensalydades em dia, jus pagantis trouchius.
Não admitu que um inzame como o da OB tenha mim reprovado a mim e os meus colegas, tudo baxarél ducassête, fina fror do laço da magisprudência direital jus alagoenses, quiçá, oxalá, lambusá e inchalá do Brasil.
Comsserteza, Voça Maguinadireciênssia, este Inzame tava mais dificiu que o que a gente esperávamos, data venia. Cabe recurço no prinssípio da Preguissae Burricantis Jus Reprovantis!
Exiju que alguma coisa seje feita, data venia, porque isso não vai ficar assim. É aquela véia máxima da jus pilantris cafajestis do “Dinheirus In Manos, Diprômas Insanus”.
E o sinhô, Voça Magistrantis Data Veniantes Digerências ainda viu o que eles fizerão? Divulgaram que a gente fomos reprovado em massa. E agora? Vai pegá mau. Nim macarrão agente pode fazer?
Tá bem na ora de a gente, data venia, fazê alguma coisa, vc num acha minha pechada? Meu parssero?
Me add no msn kr tc c/ vc wlw!
Afinal, a gente já somos adevogados depois de tantu estudar esses cinco anos.
Muy respeitosamente dispessome de Voça Magnitudência Faucudadisca das Alagoas, Jus Autarquia do Ensino JusJurídico e Cuscuslegis do Brasil.
Um abrasso do Dotô Posidônio Adolfo Juquitiba Neto
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