Se com o Exame da Ordem os resultados da última prova da OAB já foram catastróficos, imaginem se inexistisse o teste capaz de mensurar e outorgar o direito de exercer advocacia a quem somente é bacharel?
Lamento contrariar quem é contra por pensamento raso, por preguiça mental ou por visão distorcida do papel cidadão e essencial do advogado (profissional certificado SIM pela prova em questão e profissional que deve estar preparado para ofertar o melhor serviço à sociedade), mas o Exame da OAB a cada dia se torna mais indispensável.
Pasmem, mas no Exame de 2010.3 que teve os resultados revelados nesta semana, dos 1.364 inscritos em Alagoas somente 161 foram aprovados.
Nacionalmente foi o mesmo “tsunami” de despreparo coletivo, com 9 entre 10 candidatos merecendo uma necessária reprovação.
Não vou cansar o leitor com os números locais. Somente direi, com algum orgulho e com imenso sentimento de que ainda precisamos melhorar muito, que 45,05% dos alunos da Ufal que estavam inscritos conseguiram passar na prova.
Todavia, como professor da Faculdade de Direito (FDA) da Universidade Federal de Alagoas, já me organizo junto com outros companheiros professores para aperfeiçoarmos estes indicadores de aprovação, que embora estejam bem acima da média alagoana e também da média nacional ainda estão aquém da capacidade do qualificado corpo discente desta instituição federal.
Sobre a realidade alagoana, ofereço este link com notícia da OAB/AL para quem quiser conferir o sofrível e deprimente desempenho das demais “faculdades” de Alagoas.
Mas porque digo que a reprovação de 9 entre 10 candidatos foi NECESSÁRIA?
Porque atesta o que há muito já enfatizo, que é o fato do ensino de Ciências Jurídicas em todo o Brasil ter se tornado um mercado de vigarices pseudo-acadêmicas, falsas promessas de “futuro” promissor, ilusões consentidas e assimiladas por incautos e adestramento de marcadores e A, B, C, D ou E. Formam-se não bacharéis e sim somente pretensos “preenchedores” de folhas de respostas para concursos públicos, e que mesmo assim não conseguem fazê-lo a contento.
Porque neste mercado que pouco tem de educacional – respeitemos as faculdades privadas sérias que existem e que com seus docentes preparados prestam um excelente serviço a seu alunado – há uma parcela de empresários nada comprometida com EDUCAÇÃO, que ganha rios de dinheiro contratando professores medíocres para enganarem estudantes-clientes com bibliografia limitada, prática jurídica quase nula e debate fundamental sobre o tema do Direito feito de modo rasteiro, quando ainda presente.
Empresários que não se preocupam em sequer realizar uma seleção minimamente mais rigorosa do candidato a estudante-cliente que adentrará seus cursos. Empresários sempre atentos, sim, unicamente à capacidade destes estudantes-clientes recolherem as mensalidades e sempre pagá-las em dia. Vergonha! Vergonha! Vergonha! O "vestibular" ou exame de seleção do pretenso candidato passa mais pela análise de crédito do que pela avaliação da competência que este precisa ter para ser acadêmico.
Porque já passa da hora do Ministério da Educação acabar com esta “farra” de autorizações de novos cursos e novas vagas em Direito (foram mais 32 faculdades de Direito autorizadas no último mês de junho!!!), colocando também um ponto final na conivência que ainda permite o funcionamento das atuais espeluncas travestidas de faculdades que ludibriam seus alunos e alunas. Espeluncas que merecem ser banidas, fechadas, ressarcindo os prejuízos que acarretaram aos nela matriculados, pedindo desculpas a quem nelas confiou.
Porque a sociedade alagoana e brasileira não merece e não pode ficar refém de advogados e advogadas semi-analfabetos e semi-analfabetas, incapazes de redigirem uma mísera petição, de defenderem seus clientes e de lutarem pelo justo, pelo equânime, pelo legal.
Não defendo uma elitização do curso de Direito.
Muito pelo contrário.
Vim “de baixo” e sou prova viva de que superar adversidades financeiras e materiais por meio do estudo é possível. Mas não podemos compactuar com “compra” de diplomas, aviltamento da área ou comprometimento da qualidade dos cursos.
Por motivos como estes é que digo: a reprovação de 9 entre 10 candidatos no Exame da OAB foi e é NECESSÁRIA!
Em bom português, tomemos “vergonha” na cara e tenhamos coragem para encararmos este fato.
Sei que serei tachado de reacionário, radical, intransigente! Sei que serei destratado ou até ofendido por esta afirmação!
Mas fico tranqüilo porque, em caso de dano moral, contarei em Alagoas com novos 161 advogados aptos e preparados com certificação mínima para me defenderem, e que fiquei protegido contra a possibilidade de contratação de 1203 bacharéis que ainda precisam estudar muito para exercerem a advocacia.
Sou solidário e acredito no potencial de todos estes. Sei e confio que eles têm plenas condições de superar a péssima formação que suas faculdades lhes ofertaram.
Espero e torço muito para, sinceramente, um dia chamá-los de colegas.
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