Desde a Copa de 94, sempre uma semana antes do jogo do Brasil, ele, torcedor fanático, colocava e não trocava a cueca verde e amarela que usara na final daquele Brasil e Itália.

Em sua crendice supersticiosa, o Baggio “ratou” o pênalti por força da santa (e nojenta...) peça íntima.

Sua fé na seleção era inabalável. Mandou rezar missa na morte do Telê Santana, mesmo em Alagoas pediu voto para o Romário a cada turista carioca que encontrava, e acreditava que Ronaldinho ainda poderia perder peso, baixar o bucho e bater um bolão! Para ele, Pelé e Garricha eram santos: Cosme e Damião do Brasil.

Djalminha era irado, fervoroso, xiita, grosseirão, torcedor aloprado e raivoso, cheio de “mumunhas”, “pantins”, crenças e manias. Por exemplo, jamais apertava a mão de francês, argentino ou italiano, representantes dos algozes da seleção brasileira em Copas passadas. Camisa azul clara, cor da AFA do Maradona? Nem pensar. No enxoval do Djalminha Jr. proibiu qualquer peça azul bebê. Não comia pizza e nem macarrão e não andava em carro da Volks, para “não financiar” “aquele magote de ‘féla’ da put...”

Em dia de jogo, cheio de pinga, perdia o controle. Era cachaça e palavrão de fazer corar pelada de moleque. Camisa verde e amarela em campo impunha respeito e bebedeira. E xingamento pesado contra o inimigo era essencial.

- “Féla” da p...”. Era um dos termos pouco lisonjeiros que utilizava se referindo aos jogadores dos times alheios. Ou brasileiros que ficavam, segundo ele, de “put..ria” e pedalando de “viadag...” com a “redonda”.

Tudo para desespero de Esmeraldina, católica papa-hóstia, temente a Deus, apaixonada pelo marido, mas ciente dos pecados e defeitos do cônjuge.

Integrante do Sagrado Coração de Jesus, hospedeira de imagem de santo em peregrinação, Esmeraldina era auxiliar direta do padre da paróquia, unha e carne com o vigário. E a cidade tinha pároco novo. Padre Inácio, recém chegado da capital, era a cara de jogador e ex-técnico da seleção! Branco, troncudo, boca meio torta e cabelo arrepiado.

Domingo morno, mas inicial da Copa América. A “Pátria de Chuteiras”, mais uma vez, estava composta. Estréia do Brasil, Djalminha já estava todo “assado” suportando há 7 dias a cueca da Copa dos Estados Unidos. O muro estava pintado de verde amarelo e a frente de casa também, cheia de bandeirola. O estoque de aguardente renovado e ampliado, assim como o vocabulário de “alto” nível do torcedor.

- “Este Neymar é um “felá” da p... Se eu fosse o Mano, mandava todo mundo “tomar no c...”. Escalar jogador safado uma “porr...”! Que se “fod...” a CBF...

Começou o “serviço” no domingo bem cedo. No som, Adelino Nascimento “live in” Girau do Ponciano. Controle remoto da TV colado com “Super Bonder” no canal de esportes preferido. No desjejum foi “meiota” para preparar o “istrombu” e o dia de emoção. Além da televisão, mantinha 3 rádios do tipo “consola” sintonizados em coberturas diferentes. Não perderia um lance da competição em terras argentinas.

Às 9 da manhã já confundia Jesus com Genésio. Meio grogue, era só soprada na “vuvuzela”, hábito que incorporou ao ritual após a experiência da África do Sul. Paranóico, qualquer ato era mau agouro, era “zica” para prejudicar o time, “macumba” e olho gordo para cima da seleção. Vassoura atrás da porta, cruzada de perna, coruja “rasga mortalha”... se fizessem ou botassem na frente dele, dava alteração!

Às 10 e meia já estava completamente embriagado. A “vuvuzela” era acionada a cada 5 minutos ao som de “... eu hoje quebro esta mesa se meu amor não chegar...”. Antes do meio dia, tinha consumido 3 garrafas da mais pura cachaça da zona da mata alagoana. “Bebo” cego, iria se segurar até a tardinha, horário do jogo.

Eis que toca a campainha. Djalminha Jr. abriu a porta. Sorridente, o menino gaiato convidou aquele alguém para entrar, já prevendo a “tromba” do pai. Esmeraldina comemorou, sorriu, agradeceu a visita dominical. Djalminha abaixou o Adelino. Quem seria? Zagallo? Parreira? Felipão? Foi quando para espanto dele e de todos, ele viu quem era e não se conteve.

- “‘Abra’ daqui seu ‘féla’ da put..., “fio” d’uma égua. Treinador viad.. do caralh... Vou meter a mão nesta tua cara de raparig... Vá tomar nos “óio” do seu c... seu nojento. Tá de luto é via... safado. Todo de preto urubu dos inferno! Macumbeiro “sénvergonha”, vá fazer macumba para a queng... fuleira da tua mãe, seu arromb.... Vá se fud... e se voltar aqui vou socar aquela cruz bem dentro do seu r.....”...

Padre Inácio, a cara do Dunga, foi embora fazendo sinal de benção, orando a Deus pelo infeliz e pela vitória no jogo de estréia da Copa América.

 

 

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