O Supremo Tribunal Federal acabou com a hipocrisia que, infelizmente, era praticada por quem já deveria ter entendido que é humanamente impossível cortar o vento ou cuspir para cima para desafiar a lei da gravidade.

Refiro-me à decisão do Supremo de liberar a “marcha da maconha”. Foi uma decisão unânime adotada pelos oito ministros – dois faltaram à sessão e um se julgou suspeito – para enterrar de vez as decisões hipócritas e, pior, desonestas, daqueles que desejavam continuar cortando o vento.

Se hoje a sociedade enfrenta os problemas causados pelas drogas químicas, isto se deve à hipocrisia daqueles que agiram por desconhecimento, preconceito ou por interesse fiduciário. Sim, porque algumas autoridades se aproveitam para extorquir o usuário e o traficante; não por acaso criou-se no vernáculo um verbo que não está no manual, mas existe de fato: “minerar”.

Na gíria da malandragem carioca – e da polícia também – “minerar” significa pegar a propina dos traficantes. Para essas autoridades, liberar a droga significa prejuízo.

E eles (as autoridades) conjugam assim:

Eu minero, tu mineras e ele minera; nós mineramos, vós minerais e eles mineram.

Para esses, claro, a tese do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve a coragem de levantar a questão, significa uma baixa financeira substancial.

Só existem três tipos de pessoas contrárias à tese do ex-presidente FHC:

1) O ignorante
2) O fundamentalista religioso
3) O corrupto

Você sabia, por exemplo, que Washington, a Capital dos Estados Unidos, foi construída em duas grandes fazendas de maconha que pertenciam a Thomaz Jeferson e George Washington?

Você sabia que na Carolina do Norte existe o movimento “Vote Hamp” (Vote Maconha) lançado por um senador republicano que defende o cultivo da maconha para produção de Etenol?

Você sabia que no Canadá o cultivo da maconha foi liberado para fins medicinais?

Você sabia que Nabucodonossor, o personagem bíblico que libertou os judeus do cativeiro “fumava uma erva” (maconha) e, em “êxtase” (de sacanagem) gostava de rastejar se dizendo serpente?

Você sabia que, na Guerra do Vietnã, o Exército dos Estados Unidos distribuía maconha com os soldados?

Aliás, sobre os Estados Unidos, uma figura que morou seis anos em Boston me contou que trabalhava num hospital e todo final de mês entrava em pânico porque os “heróis” da Guerra do Vietnã vinham fazer a revisão médica e alguns deles entravam no hospital fumando um baseado e ninguém podia dizer nada.

O medo que essa pessoa tinha era porque alguns deles, atrofiados pela guerra, uns faltando o braço, outros sem as pernas, e outros com cicatrizes no rosto, só conseguiam controlar a neurose com o baseado.

Pois bem; essa é a realidade que a hipocrisia não quer ver e por isso a sociedade paga o preço alto hoje. É preciso entender também que, até o começo da década de 1960, a maconha era vendida livremente no Mercado Público de Maceió com o sugestivo nome de “remédio pra dor de mulher”.

Depois que proibiram a comercialização surgiu o crack, a cocaína e o óxi – que, na verdade, se chama “merla” e está no mercado deste o começo de 2000. E essas sim, são drogas químicas que a hipocrisia estimulou a produção e o consumo.

Para finalizar, os vizinhos do compositor e cantor João Gilberto, que mora no Leblon, já se acostumaram com o cheiro da maconha que exala do apartamento dele – e João Gilberto não é nenhum bandido.

Digamos, então, que existe o má...conheiro e o bom...conheiro, assim como existe o bom e o mau vizinho; o bom e o mau caráter; o bom e o mau profissional.

Está de parabéns o Supremo Tribunal Federal por dar esse tapa na cara dos hipócritas.