Era dia dos namorados. Outra vez.

Pela 68.ª vez, Ivetinha Foguetão, conhecida das rodas de samba, folguedos, forró, carnaval de época e fora de época, baile dos mascarados, descarados, desvairados... passava este dia só.

Hoje, a senhora Marivete dos Anjos Almeida Carrara, nome imponente da alta sociedade alagoana, tentava entender o porquê de ter ficado solteirona, vitalina, “pra titia”, ou melhor “pra titia-avó”.

Isto posto por que todas as suas irmãs já haviam casado e alguns de seus sobrinhos já haviam também procriado “sob as palavras do Senhor”.

Ninguém acreditava que o futuro de Ivetinha Foguetão fosse ser a solteirice. A beleza, o fulgor, as ancas largas, as pernas grossas, os lábios carnudos, tudo nela cheirava e encarnava sensualidade pura.

Haveria de ter alguém que a levasse para o altar. Mas os anos foram se passando e ela colecionando paqueras e admiradores secretos. Sua alegria e sua brejeirice, além da fama de mulher fatal, acabaram por afastar todos os pretensos candidatos.

E aqui uma confissão: Ivetinha Foguetão era virgem. De tudo. Nunca um beijo de língua, nunca uma escorregadela de mão aqui ou acolá.

Tudo que sabia era tirado da imaginação e dos contos eróticos que lia compulsivamente. Era uma ninfomaníaca de academia literária. Poderia dizer que possuía PhD em safadeza, sexo, sacanagem, erotismo.. mas não passou do jardim da infância no exercício real do contato homem-mulher.

O apelido de Ivetinha Foguetão foi dado porque ela erotizava tudo. Quando tomava um sorvete, fazia questão de que as amigas tivessem a certeza de que ela já teria feito tudo e mais um pouco com aquela língua que transformava aquele momento de prazer gastronômico em algo sensual.

Era invejada por todas.

Recontava os contos eróticos como se já os houvesse vivido em carne e osso, desejo e lençóis ardentes.

Que nada! A Ivetinha Foguetão nunca passara de um “estalinho bebé” de quinta categoria quando o assunto era sexo real.

Quando conheceu a internet, as salas de bate-papo com conversas eróticas, tornou-se rainha dos contos e das safadezas.

Já tinha lido Kama-Sutra cinco vezes, havia decorado cada posição, cada nome,  e os fantasiava com seus “parceiros sexuais virtuais”.

Passou a adotar o epíteto de Ivetinha Foguetão para aumentar a libido de seus admiradores.

E o tempo passou...

As safadezas virtuais foram ficando sem o toque final.

Aliás, sem toque algum.

Às festas que comparecia fazia questão de dizer que já houvera saído com quase todos os bem afamados homens da sociedade.

E eles, para aumentar suas famas de homens galanteadores, nunca negaram tais feitos.

Chegavam a contar detalhes sórdidos com a descrição pormenorizada de tudo que haviam feito, inclusive em alguns colocando defeitos pitorescos. “Ah, aquele ali, o “Galalau” adora uma investida de costas e nas costas”; “o Júnior Cabeção? Adivinhem porque esse apelido?”; “Adamastor, o linguarudo...” e por aí animava as rodinhas de conversa das amigas.

Tudo segredado para dar ares de veracidade e cumplicidade na sacanagem.

Nada. Nada e mais nada de verdadeiro.

Ivetinha Foguetão suspirou sozinha mais um dia dos namorados.

O seu 68º.

A virgindade que um dia a terra haveria de comer denunciava que a verdade por trás de todo aquele ardor e furor sensual era fulminante: o único namorado que Ivetinha Foguetão já possuíra fora a sua tenra, fértil e erótica imaginação.

 

 

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