O “xis” da questão não está no escândalo; o “xis” da questão sempre estará na motivação para o escândalo vir à tona.
É sempre assim, mas não pensem que é só no Brasil; que é só o político brasileiro porque não é. Faz parte da política aqui e alhures.
O incauto acredita que o ministro Antônio Palocci caiu devido à repercussão do escândalo, com o seu enriquecimento meteórico coincidindo com a sua passagem pelo governo.
O precavido vai buscar a motivação para a divulgação do escândalo.
É preciso dizer que, do ponto de vista legal, não há artigo onde se possa enquadrar Palocci por ter multiplicado o patrimônio vinte vezes nos últimos quatro anos. E se não há artigo para enquadrado, então não existe crime.
Foi por isso que o procurador-geral da República não o denunciou.
É preciso dizer também que existe uma corrente dentro do PT que é anti-Palocci, ou o tomou por desafeto agora por interesses contrariados.
Essa corrente do PT agiu à surdina para a trama.
Para entender o jogo vamos retroceder à votação do novo Código Florestal. O ministro Palocci, em nome da presidente Dilma, telefonou para o vice-presidente Michel Temer e ameaçou demitir os ministros do PMDB se o partido na Câmara não votasse favorável ao governo.
Os dois discutiram asperamente.
Temer reuniu o grupo dos 8 (são oito senadores, entre eles Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos) que se rotulam independentes e obteve dele solidariedade.
O vice-presidente juntou em torno de si os 8 senadores independentes e os 10 que compõem a base aliada – que, no fundo, só tem mesmo como exceção Jarbas Vasconcelos.
Com a crise tomando rumo que não devia, o ex-presidente Lula desembarcou em Brasília e provocou a ira da presidente Dilma – que se queixou da presença de Lula como “salvador da pátria”.
Coube ao senador Dulcídio Amaral dar o recado na tribuna do Senado, na semana passada. Depois de deitar elogios a Dilma, de quem é amigo desde o tempo em que ela era secratária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul, Dulcídio falou claramente:
“A presença do ex-presidente Lula passou a imagem de que o governo é fraco, e a presidente Dilma não é fraca”.
A queda de Palocci se deu por dois motivos:
Ele perdeu a confiança do PMDB.
A presidente Dilma quis mostrar ao Lula quem manda no governo. Ou seja: quis dizer que não adiantou o Lula vir a Brasília para "salvar Palocci".
PS - E por falar em Brasília, comunico aos amigos internautas que estou residindo na Capital Federal. Continuarei com o blog aqui no Cada Minuto e com a coluna Contexto, em O Jornal. Aproveito para agradecer aos companheiros Francivaldo Dinis, Sérgio Lúcio, Carlos Melo, Volnei Malta e Deraldo Francisco pelo apoio e a força que me deram para esse novo desafio, que inclui também o boletim à rádio Jornal no programa do competente jornalista Marcos Rodrigues.