Ao justificar o motivo de não ter autorizado a exibição de fotografias sobre o impeachment do presidente Fernando Collor no “Túnel do Tempo”, que ilustra a história do Senado, o senador José Sarney disse que o impeachment de Collor foi “um acidente”.

Foi não; foi sacanagem mesmo.

E uma sacanagem eivada de erros, porque Collor renunciou e a renúncia deveria cessar o processo de impeachment, mas, como o processo foi mesmo uma sacanagem eles tocaram a sacanagem pra frente porque o circo estava armado.

Não quero com isso dizer que Collor não cometeu erros; não se deve esquecer que um dos erros mais sérios foi o confisco da poupança. Mas, quero afirmar que ele foi apeado do poder por outros motivos, entre os quais a ira dos que não perdoaram a derrota fragorosa nas urnas.

Lembrem-se de que Ulisses Guimarães, que se julgava o timoneiro da reabertura democrática, amargou o humilhante sétimo lugar.

A peça fundamental da denúncia contra Collor, e que levou ao impeachment, foi a compra de um Fiat Elba para substituir o veículo da mesma marca que foi destruído num acidente. Vamos aos fatos:

O veículo Fiat Elba era usado para as compras que abasteciam a despensa da Casa da Dinda. No dia do acidente, o veículo estava lotado de jornalistas que cobriam o Palácio do Planalto e estavam todos na Casa da Dinda.

O Collor, com aquele rompante que lhe é característico, saiu repentinamente surpreendendo os jornalistas – que, para ganhar tempo e não perdê-lo de vista, entraram no veículo mais próximo e mandaram o motorista segui-lo.

Sem a experiência de carro de reportagem para acompanhar comitiva, o motorista da Elba sobrou na curva causando o acidente que destruiu o veículo. Ninguém se feriu gravemente, mas a Elba foi destruída e o Collor, que só soube do acidente depois, mandou comprar outra.

Pois bem; o Fiat Elba virou a grande peça do impeachment, porque eles queriam pegar o PC Farias e esta foi a oportunidade.

O impeachment do Collor foi uma sacanagem porque os verdadeiros motivos de apeá-lo do poder foram:

1) Collor não se relacionava com a classe política e desdenhava do Congresso Nacional.

2) Collor mandou invadir a sede da Folha de S Paulo.

3) Collor mandou apreender o trem carregado de cimento, do Grupo Votorantim.

4) Collor chamou o presidente da Fiesp de “capitão de indústria”.

5) Collor atacou o presidente nacional da OAB.

6) Collor deu um “chá de cadeira” em Roberto Marinho – que lhe pediu uma audiência a sós, e foi recebido por uma multidão na sala.

7) Collor estava montando, pelo Paraná, uma rede nacional de televisão para competir com a Globo.

8) Collor abriu a economia brasileira e atacou a indústria automobilística nacional, ao chamar os carros brasileiros de “carroças”.

9) Collor não ouvia ninguém.

10) Collor abriu um leque muito grande de desafetos.

Conclusão: eleito o presidente da República mais jovem da história do País, se não o destruíssem politicamente teriam de conviver com o “inimigo” por muito tempo. O impeachment do Collor não foi um acidente; foi uma sacanagem mesmo promovida pelo Sul e Sudeste maravilha.