A opinião do desembargador Washington Luiz acerca da “esculhambação” de nossa segurança pública não causa espanto, uma vez que reflete única e simplesmente o estado atual em Alagoas daquilo que se chama no jargão estatizante e politicamente correto de defesa social.
O nível chegou, certamente, ao estágio do insuportável. Vivemos quase que cerceados de nosso direito sagrado de ir e vir. O terror nos afugenta de lugares públicos, espreita-nos nas esquinas, invade nossas casas e aprisiona nossos familiares. Maceió é uma cidade sitiada. E no interior, como em Piranhas, a situação não é diferente.
Os argumentos são variados para a crise na segurança, sem generalizar: salários defasados, corrupção e apadrinhamento, falta de senso cidadão, sucateamento, ineficácia em inteligência investigativa. Mas o que vejo faltar é, sobretudo, autoestima em nossas polícias. E não culpemos nossos bravos e corajosos policiais militares – principalmente os praças – muito menos os policiais civis ou os agentes penitenciários.
E este será, certamente, o maior desafio de qualquer governante alagoano. Devolver aos servidores da segurança pública – se não a todo o funcionalismo estadual – o senso de pertença que nos faz “vestir a camisa”. Aquele sentimento de até mal falarmos de nosso canto, mas não admitir que ninguém destrate ou minimize nossa terra.
Tracemos um breve cenário histórico, sejamos corretos e não “esculhambemos” ainda mais a atual gestão, já tão “autoesculhambada”. O desencanto de nossos policiais e de nossos servidores em geral tem raízes em nosso passado não tão longiquo. Senão vejamos:
No governo Collor as demissões em massa de servidores não estáveis de acordo com a Constituição de 1988 foi o primeiro atentado contra nosso essencial funcionalismo público. Havia “marajás” e servidores fantasmas, é claro. Mas houve também injustiças. Houve justos que pagaram pelos pecadores, lamentavelmente.
Na era do “Gente Boa” o funcionalismo viveu dias de desgoverno diante da inércia de quem deveria ser o mandatário supremo do Estado. Se comparado a Geraldo Bulhões, Teotônio Vilela Filho é um “Capitão Nascimento” do Executivo, um “workaholic” da gestão pública. O governo GB foi um dos momentos de maior “leseira” de nossa história, fatal para com nossos servidores, com direito à desmoralização de “surra de toalha molhada” e tudo mais.
Aí veio Suruagy, o “Salvador da Pátria” dos anos 90, carregado nos braços até o Palácio e apeado do Poder ao custo de dor, sofrimento, quase uma dezena de folhas salariais em atraso, greves e aquele crime tristemente emblemático: o militar que matou mulher e filhos e depois cometeu suicídio em virtude de fome, depressão e desalento. Sem falar no desmonte irresponsável causado pelo PDV!
Mano foi “tampão” e tentou ajeitar, mas aí veio a era Ronaldo Lessa/Luis Abílio: início de esperança com realização de concursos transparentes, mas relação traumática com sindicatos e fim de descrença com famigerados “ronaldízios”, acusações de improbidade, castelos de areia em promessas e melancolia com aumentos salariais justos, mas dados para a outra gestão passar.
Por fim, a era Teotonio Vilela Filho é isso aí, que dispensa maiores comentários...
A segurança está “esculhambada” porque “esculhambaram” a moral do servidor, principalmente do servidor policial. Recuperar este prejuízo vai levar anos e investimentos afetivos para além de propagandas vazias, de percentuais ridículos de reajuste, da vinda relâmpago de ministros, das reuniões em gabinetes refrigerados ou dos pacotes integrados de planejamento burocrata.
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