Dos anos 90 - quando multidões rebolavam e cantavam ao som de “Adocica”, e a lambada era o ritmo do momento – para cá, muita coisa mudou na vida de Beto Barbosa. “No tempo da lambada, meu cachê era o que seria hoje uns R$ 200 mil. Agora ganho no máximo R$ 50 mil. Mas nunca deixei de fazer show”, conta ele, que acaba de completar 25 anos de carreira e ficou com a agenda bem mais cheia depois de fazer o comercial de uma marca de cerveja.
Uma coisa não mudou: em suas apresentações – uma média de três por semana -, as músicas mais pedidas pelo público são as mesmas de 20 anos atrás. “Às vezes tenho que cantar ‘Adocica’ umas três vezes”, diz. “O povo pede, e não posso reclamar. Foi a música que fez o Brasil me conhecer e me trouxe muitas alegrias. Mas a vida no geral cansa, né?”
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E Beto cansou também do título de rei da lambada. “Fui um dos precursores, mas também tenho muitas músicas românticas. Título nunca é bom. Não gosto que me rotulem”, afirma ele, que também faz careta quando o chamam de brega. “O brega está na cabeça das pessoas. Eu acho as dondocas bregas, mas elas se acham luxo. Não vou agradar a todos, por isso não dou ouvidos a comentários. O brega é muito complexo.”
Alfinetada em Caetano
Apesar do discurso, são os hits de lambada que ainda lhe garantem boa parte do público e uma mesadinha de direitos autorais. “Mas não ganho o que gostaria de ganhar. Direitos autorais no Brasil são uma coisa muito confusa. E você vê as verbas do Ministério da Cultura... quem ganha sempre? A turma do Caetano é sempre favorecida", reclama.
"Se eu ganhasse R$ 1,3 milhão (ele se refere ao valor que Maria Bethânia recebeu para fazer um site de poesias) não faria um blog, mas ajudaria artistas cheios de talento que estão em favelas, em guetos. Para que esses projetos que não chegam a lugar nenhum?. Nunca peguei um tostão.
Malhação e roupas de grife
Beto tem tino para negócios. Além da música, investe em imóveis e, recentemente, abriu a sorveteria (adivinha o nome?) Adocica, em Belém. Paraense, ele se divide entre suas três casas: em Natal, Belém e São Paulo, dependendo da agenda de shows. “Sei mexer com negócios, sei administrar meus bens. Não sou de gastar”, comenta.
Quando toca na vaidade, porém, ele gasta. As camisas estampadas – “de Bali, moda que descobri no Rio nos anos 90”, lembra – deram lugar a roupas de grifes como Calvin Klein e Armani. Aos 56 anos, mantém o corpinho enxuto com musculação e corrida.
“Não gosto de ficar bombado, mas puxo um ferrinho. Nas pernas não preciso porque tenho pernas de jogador de futebol”, gaba-se. Mas o cantor admite que a idade tem pesado e que o rebolado não é mais o mesmo. “Há certos passos que não consigo mais fazer. Vou continuar cantando, mas aquele Elvis Presley dos palcos vai diminuindo.
Solteirão
A vida amorosa também deu uma acalmada. Beto se divorciou há dez anos e, desde então, diz que só teve casos por aí. “Quero namorar sério, construir uma nova família. Mas é difícil encontrar alguém com a cabeça preparada para o casamento. Não namoro há muito tempo, mas ficadas sempre acontecem. Há sempre alguém esperando alguém, né?”, brinca.
“Mas não gosto desta moda de beijar dez em uma festa. Tem muita fã maluca, dá até uma ‘gastura’. Em vez de me conquistar, ‘pego abuso’. Não sou galanteador, sou reservado”, diz. “Quero alguém para cuidar de mim, da casa. Me sinto muito sozinho”, conta Beto, pai de três filhos adotivos – a quarta, também adotada, morreu em outubro de 2010, após uma infecção no pulmão. “Sinto falta dela todos os dias. Tem horas que desanimo, mas depois fico forte de novo, até porque tenho meus outros filhos.”
Um dos assuntos que deixam Beto mais animado atualmente é o DVD que pretende gravar. Ele sonha em fazer dueto com Ivete Sangalo. “Quero um grande show, com convidados e bailarinos. Ainda estou vendo como vou viabilizar isso. Hoje as coisas são mais difíceis porque não temos mais o apoio das gravadoras”, lamenta o cantor, que é dono de um selo, o BB Record, e distribui CDs em seus shows. “Dá certo, vira um boom. Quero ‘estar na mídia’ com o povo”.