Já apontei em outro texto que a esquerda recorre sempre ao argumento populista em favor de suas teses. Mas quando a maioria é contrária aos seus valores, aí a maioria não serve. Assim, quando interessa, a esquerda se diz popular e comprometida com os desejos do povo. Mas quando o povo decide o oposto do que a esquerda quer, ele não serve mais.
Nesse outro texto eu falo de um palestrante que defendia o malfadado “direito alternativo”. Assim me pronunciei:
“O pessoal do "direito alternativo" e aqueles que se dizem defensores dos "direitos humanos", mas apóiam os crimes do MST e seus congêneres, gostam de dizer que o direito não é o que a lei diz, mas sim aquilo que "brota da sociedade". (...)
No entanto, uma parte da palestra traiu o pobre o sujeito. Quando falou sobre questões penais, disse que a maioria tem noções erradas de justiça, pois defende os rigores da lei contra os bandidos e, muitas vezes, defende até a justiça com as próprias mãos, a tortura e a pena de morte.
Ficou num beco sem saída. Como justificar o "direito do povo" e o "direito das ruas" se o "povo" pode ser tão mau? Sabe como ele se saiu? Culpou a Globo, a Veja e até Ana Maria Braga pagou o pato. Foi chamada de "socióloga" numa ironia que beirava ao ridículo.
Não é interessante? O "povo" só serve quando concorda com a turma! Quando não concorda ele é manipulado pela Globo. Dá para suportar isso?”
Recentemente o tal deputado e ex-bbb Jean Willys se disse contrário ao uso de plebiscitos para decidir questões sobre homossexuais. Ele acha que o povo não está preparado para decidir a respeito desses temas. Um belo argumento a favor da democracia representativa e do constitucionalismo ao estilo americano! Bem reacionário, não?
É que a esquerda brasileira é liberal nos costumes, ao contrário da maioria do povo brasileiro, extremamente conservador. Aí o argumento popular já não presta e a esquerda recorre ao elitismo contra-majoritário que tanto critica na... direita!
Hoje eu me deparo com a polêmica da marcha dos maconheiros. Um monte de maconheiros no meio da rua pedindo a liberação da maconha. Apologia ao crime! Diriam os mais conservadores. Minha opinião? Como bom liberal que sou, mantenho minha coerência. O direito de manifestar uma opinião é constitucionalmente assegurado e é a essência da democracia. Portanto, apesar do fim ilegal, a tal marcha não poderia ser repreendida previamente. É censura prévia!
Mas, ora vejam, os mesmos que desceram a lenha na minha defesa intransigente da liberdade de expressão, estão chocados com a decisão de um juiz de São Paulo que proibiu a tal marcha. Eles querem controle da mídia, querem doutrinar sexualmente nossos filhos, querem o Estado gigante, mas para fumar maconha, querem toda a liberdade que a democracia pode oferecer.
É uma piada!
Não sou eu o contraditório. Eu sou defensor do modelo da democracia liberal. Eu sou defensor do modelo de supremacia da constituição, tachado de elitista pelo constitucionalismo “democrático”. Eu defendo um elemento contra-majoritário na definição dos direitos humanos. Eu defendo a liberdade sempre, mesmo contra a maioria.
Esquerdistas, não! Só defendem a liberdade quando lhes interessa. Só querem ouvir o povo quando lhes interessa.
Que contradição!