Eleito governador com uma votação jamais vista na história política de Alagoas, o professor Divaldo Suruagy tinha tudo para sair do governo consagrado – mas, deu-se o contrário.

Suruagy não imaginava que aquele seria seu último mandato; não imaginava que nunca mais iria se eleger sequer para a Câmara Federal.

Essa história triste que mostra a ascensão e queda de um ídolo tem explicação; nada é gratuito porque não há causa sem efeito e vice-versa.

Tudo começou assim:

Suruagy convidou para a Secretaria da Fazenda o ex-diretor da Salgema Indústria Química, José Pereira, que havia conduzido o processo de privatização da empresa – que foi vendida para o grupo Norberto Odebrecht e passou a se chamar Trikem, depois Braskem.

Depois da venda da Salgema, José Pereira foi embora para o Rio de Janeiro e fixou residência em Copacabana. Não se sabe como se encontraram no Rio, mas Suruagy se comoveu com a história que Pereira lhe contou sobre o assalto que sofreu – um bando de assaltantes invadiu seu apartamento – segundo Pereira – e lhe levaram tudo o que possuía em dinheiro e jóia.

Suruagy o trouxe para Alagoas e aqui Zé Pereira se arrumou; aqui ele recuperou o prejuízo. Mas, não agiu honestamente; Zé Pereira adotou a política de rapinagem e cometeu até mesmo o crime de estelionato quando falsificou a assinatura do ex-governador Fernando Collor, para burlar a legislação e lançar a famigerada Letras Financeiras de Alagoas – um golpe própria de quadrilheiro, que empurrou o Estado para o abismo fatal.

Mas, não foi só isso. Zé Pereira intermediou a negociação e convenceu Suruagy a assinar a isenção de ICMS da energia elétrica para a Trikem, hoje Braskem, sob o argumento de que a sede da empresa é na Bahia e a energia elétrica é gerada em Paulo Afonso, que fica na Bahia, logo, não havia “circulação de mercadoria”- o que só se dá de estado para estado.

Ocorre que para realizar a eletrólise e separar o cloro e o hidrogênio da sal-gema, a Braskem consome energia elétrica suficiente para iluminar uma cidade de 700 mil habitantes. E faz isso em Maceió, mais precisamente no Pontal da Barra. Ao isentá-la do ICMS, Suruagy viu a receita fiscal do Estado minguar num abalo que gerou a crise financeira.

Foram nove folhas de pagamento atrasadas.

Informado da irresponsabilidade, o governo federal se recusou a ajudar o Estado. Sem ter para quem apelar, Suruagy entregou a antiga Ceal em troca de duas folhas de pagamento atrasadas dos servidores mas, nem assim, conseguiu conter a crise e salvar o mandato.

No dia 17 de julho de 1997, o governador eleito com a maior votação já vista no Estado era obrigado a deixar o governo. Conseguiu no máximo a saída honrosa com o pedido de licença, que sabia não ter volta.

Durante todo o processo de pilhagem do erário alagoano, só uma pessoa alertou Suruagy sobre o roubo que Zé Pereira estava praticando. Foi o advogado Mendes de Barros, que numa reunião no palácio recomendou:

- Governador! Demita o secretário da Fazenda.

Suruagy respondeu:

- Ele só sai do governo comigo, Mendes.

E o advogado Mendes de Barros retrucou na bucha:

- Como ladrão.

Dito e feito. José Pereira, que não é brasileiro – ele é português – se mandou quando Suruagy foi apeado do governo. Vive hoje em lugar incerto e não sabido, mas rico, após ter “matado” politicamente o governador e afundado Alagoas num buraco que não tem fim.
Está aí a causa do rombo que não se tapa, porque depois da tempestade de Zé Pereira vieram outras tempestades que o atual governador Téo Vilela tenta em vão aplacar.