Em 1975, quando ingressei no curso de Economia da Universidade Federal de Alagoas, a Área III (Ciências Humanas) funcionava no Campus Tamandaré, onde hoje é o Detran.
Daquela turma de 1975 da Ufal saíram Humberto Martins, hoje ministro do STJ; Renan Calheiros, hoje senador; Aldo Rebelo, hoje deputado federal por São Paulo e que foi meu colega junto com o Beto Jucá, o Alberto Casado e o saudoso Péricles Gama; Régis Cavalcante, Manoel Lins Pinheiro, também saudoso, Flávio Gomes de Barros, Suruca Suruagy, e tantos outros que se tornaram famosos.
Imagine que vivíamos ainda a ditadura militar e, na época, o reitor do Ufal, Manoel Ramalho, adotou a posição corajosa quando a então Salgema – hoje Braskem – entrou em operação.
O reitor Manoel Ramalho exigiu uma brigada de combate a incêndio do Corpo de Bombeiros e 500 máscaras contra gás, numa permanente atitude de vigilância, para continuar com a área III da Ufal no Pontal da Barra.
Pense na correria!
Fomos alojados precariamente nos departamentos da Área I, lá na Cidade Universitária. O curso de Economia passou a funcionar no Departamento de Matemática, porque não atenderam à exigência do reitor Manoel Ramalho – que agiu com firmeza e responsabilidade.
Outro dia, em conversa com o deputado federal Aldo Rebelo, ele lembrava que naquela época de vigência do AI-5 e do Decreto-Lei 477, exclusivo para punir estudante e professores que se rebelassem contra a ordem do regime, quem tinha juízo tinha medo.
- “A gente tinha medo, mas não tinha juízo” – disse-me o Aldo Rebelo.
Pois bem; está ali no Pontal da Barra uma bomba que o governo alagoano deixou que fosse montada. O governo alagoano na época não teve a responsabilidade nem a altivez do reitor Manoel Ramalho.
O pior, é que em 1995 o governo alagoano concedeu isenção de ICMS para a – hoje Braskem – empresa química, sob o argumento chulo de que a empresa tem sede na Bahia e como a energia elétrica é fornecida por Paulo Afonso, que fica na Bahia, então a mercadoria (energia) não circula entre estados. E, sendo assim, não há débito com o ICMS – que é o Imposto sobre “Circulação” de Mercadoria e Serviços.
Coisas de Alagoas.
O acidente registrado esta semana na Barskem é apenas uma amostra da catástrofe que está escrita que vai ocorrer um dia. Mas, o risco não está só no Pontal da Barra; o risco está também no Mutange, onde ficam as jazidas de sal-gema,quando a terra for se acomodar.
É o seguinte: a Braskem retira o sal-gema (que é sólido) de uma profundidade de 1 mil metros e completa o buraco com água da lagoa. No dia que a terra cobrar o rombo que a Braskem está deixando é aí que vocês vão ver com quantos paus se faz uma jangada.
E tudo isto de graça, porque o consumidor de energia elétrica da Grota do Rafael e outras grotas paga mais energia elétrica do que a Braskem - que, para processar a eletrólise e separar o hidrogênio e o cloro consome o equivalente a toda energia elétrica de Maceió.
Acreditem se quiser.