Ficou famosa a frase do hoje economista Evilásio Soriano, ex-secretário estadual de Planejamento no governo Guilherme Palmeira e que foi meu professor na Ufal. A frase famosa foi pronunciada por ele quando era líder estudantil no começo da década de 60 e discursava na manifestação na Praça Sinimbu em favor das “reformas de base” do então governo João Goulart.
Depois de impedir a presença no comício do então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e de outras lideranças políticas pernambucanas, o governo alagoano – que fechou as divisas de Alagoas – mandou os bombeiros dissolverem a manifestação e acabar com o comício à base de jatos d´agua.
Eviásio Soriano reagiu aos gritos:
- Bombeiro também é povo! Bombeiro também é povo!
Tentava em vão atrair os bombeiros, mas a adesão não veio e todos foram tangidos da praça. Cerca de três meses depois veio o golpe militar, o presidente João Goulart foi deposto e os ativistas - líderes sindicais e estudantis - que não tiveram tempo de correr foram presos.
Em 1964 eu tinha 13 anos de idade e não entendia nada do que estava se passando, apesar de meu pai ter ido à manifestação. Meu pai era secretário do Sindicato dos Ferroviários e editava o jornal “A Voz do Ferroviário do Nordeste” juntamente com o hoje procurador de Justiça Luciano Chagas – que na época era um jovem secundaristas.
Mas, na manifestação de ontem dos policiais aloprados e integrantes da “Locademia de Polícia”, eu descobri que a convocação do professor e amigo Eviásio Soriano não foi de toda em vão. Havia lá bombeiros que viraram baderneiros e alguns deles com recebendo soldos de R$ 10 mil mensais para correr na praia e jogar futebol.
- Bombeiro também é povo!
O problema é que, em 1964, o grito do Evilásio era chamando os bombeiros para se juntar ao povo. E hoje, alguns bombeiros saem às ruas contra o povo.
A insubordinação de não terem ido trabalhar no aeroporto, prejudicando o povo, deve merecer punição radical e exemplar porque o militar é para cumprir ordens e não para promover desordens. Não quero com isso dizer que a reivindicação deles não seja justa, mas é preciso entender que o militar pertence a uma categoria de servidor público diferente porque detêm o privilégio de portar armas.
Um lembrete: o militarismo não é emprego nem função. O militarismo é vocação e missão, porque uma farda e uma arma nas mãos de quem não tem vocação é uma ameaça à sociedade e às instituições. Ontem foi o prédio da Assembléia Legislativa e o palácio do governo, e amanhã pode ser o prédio do Tribunal de Justiça, do Ministério Público e quem sabe uma invasão ao Supremo Tribunal Federal?
E aí será o caos.