Tenho, no mínimo, duas constatações a fazer sobre a paralisia vergonhosa que se abateu sobre o tráfego de veículos em toda a cidade de Maceió neste início de semana. Para ser direto, vamos a elas:
Primeiro: o direito de protestar não pode cercear o direito de ir e vir de absolutamente ninguém (nem qualquer outro direito de quem quer que seja!).
Expliquemos: o direito de rebelar-se e se manifestar é condição inerente à vida em sociedade. Isso não se discute. Tenho (e temos) o direito de protestar contra quaisquer argumentos, motivações, causas, pleitos, campanhas, crises, cataclismos, (in)justiças e afins. Agora um protesto que leva à paralisação de uma pessoa ou de 900 mil cidadãos é, no mínimo, inconsequente.
Solidarizo-me com a família da vítima assassinada (um trabalhador, pai de família...), mais um morto a tombar no Iraque em que se transformou Alagoas. Aliás, sou solidário aos grevistas, profissionais, lideranças comunitárias, estudantes, sem terra, religiosos, militantes e todos, irrestritamente, os demais grupos, partidos, pessoas ou organizações que saem às ruas em defesa de suas bandeiras. Mas, o que é isso? Até quando vamos suportar esta sabotagem ao coletivo que vem imperando em Maceió? Quer protestar contra o poder estatal? Vá para a porta do Palácio, da Prefeitura, do Tribunal de Justiça, da Assembléia, da Câmara... Agora inviabilizar o tráfego pela cidade é um ato de anticidadania. E já basta os atos anticidadãos praticados por quem recebe o voto sagrado de nossa população.
Segundo: a paralisia de nossa cidade comprova com fartura de dados a acefalia, a inércia, a incompetência e o desdém de nossas autoridades (municipais em especial, mas também estaduais!) para conosco.
Expliquemos: um dia de caos. Motoristas presos no trânsito, passageiros trancafiados nos coletivos, negócios em atraso, vidas em desperdício. E não se via (ou seu via em número risível!) autoridades de trânsito a gerenciar a circulação de veículos, ou policias militares a gerenciar a crise. Cadê a SMTT? Cadê a PM? Cadê os superintendentes, secretários, “aspones” e afins? Cadê o “Ciço”? Todos de modo covarde parecem ter tomado chá de sumiço.
Quer dizer que nós que amamos Maceió, aqui moramos, pagamos nossos impostos, criamos nosso filhos e geramos riqueza para esta cidade e este estado (do ambulante ao alto executivo) estamos à deriva, sem nenhum planejamento ou plano de emergência, vulneráveis ao primeiro pneu queimado ou tronco caído a bloquear ruas e avenidas (não bastassem a péssima qualidade e a quantidade insuficiente de nossas vias públicas). E o pior: o problema é no Trapiche, o coitado que mora em Guaxuma sentirá o efeito. Travou na Pajuçara? Pobre do morador do Tabuleiro. A interrupção é no Farol? Não sobe e nem desce ninguém. “Tá” tudo dominado!
Somente duas e iniciais constatações que me surgem diante de uma certeza: a de que devemos desfazer o pacto de mediocridade que selamos para com nossa capital, linda e maltradada, bela e renegada, injustamente tratada como prostituta por cafetões do dinheiro público, hábeis em perpertuar históricos de miséria, exclusão e indigência.
Se nem circular mais podemos, o que esperar?
Indignemo-nos contra estes inoperantes que gerenciam nossa máquina pública. Menos bloqueando a Fernandes Lima, a Ladeira dos Martírios ou a Leste Oeste.
Para eles, ofertar o caminho do desprezo e do repúdio nas urnas é o melhor itinerário para mandá-los ao inferno.