Na edição do sábado, 23, do Jornal Hoje da Rede Globo, o canyon do rio São Francisco fica em Sergipe.
Para a Globo o canyon não separa os Estados de Alagoas e Sergipe, conforme a geografia ensina e natureza mostra.
Mas, não vamos culpar a Globo nem os sergipanos. A culpa é nossa mesmo e a discriminação é apenas mais uma conseqüência do descaso dos nossos governantes.
Não digo que agiram por má fé, mas é certo que eles não trabalharam bem pelo Estado. Posso dizer isso pelo seguinte:
No governo Guilherme Palmeira (1978/82) o saudoso Manduca, diretor da Empresa Alagoana de Turismo, lançou o projeto “Interiorização do Turismo”, cujo objetivo era divulgar as potencialidades turísticas do Interior alagoano.
Piranhas, Água Branca e Mata Grande, as três cidades no alto Sertão do Estado, detêm um acervo arquitetônico e histórico ainda hoje inexplorado.
A idéia do Manduca era revelar essa potencialidade ao País e trabalhando em conjunto com a então Subsecretaria de Comunicação Social, cujo subsecretário era o jornalista José Osmando, foi produzida uma revista (Alagoas Agora) de distribuição nacional.
O projeto do Manduca foi a proposta mais inteligente até então no setor de turismo, mas não teve prosseguimento no governo seguinte porque o governador (1983), ao vetar o projeto, disse que o turista vinha a Alagoas atraído pelo litoral e “quem queria visitar prédios velhos ia para Minas Gerais" (sic).
Ledo engano.
O governador sergipano, João Alves, que mantinha negócios em Alagoas, pegou a idéia do Manduca e implantou em Sergipe.
O governador João Alves ajudou a construir o Hotel Xingó, criou a infraestrutura turística no semi-árido sergipano e expandiu os negócios em Canindé do São Francisco.
Imagine que, antes da usina de Xingó, a cidade de Canindé do São Francisco possuía apenas 120 casas à beira do rio. Não tinha sequer igreja – a única capela ficava nas terras da família Brito.
Canindé não tinha farmácia nem banco – sequer posto dos Correios. Hoje, Canindé foi reconstruída no topo da serra e possui quatro agências bancárias – duas oficiais e duas privadas.
O fluxo turístico atingiu um número jamais imaginado.
E por tudo isso, especialmente porque Sergipe teve um governador competente e visionário, vale fica com o cayon para ele.
E ainda que todo rio possua duas margens, Sergipe merece ficar com ambas por ter provado que o turista não vive apenas do litoral.