O sujeito é vazio de sanidade mental, é perturbado, solitário, tem alucinações...

Pode (e deve ter sido) vítima de bullying na escola. Bullying que, felizmente, vem ganhando destaque na imprensa como atitude a ser condenada e coibida em nossos ambientes escolares.

Um certo dia, sem mais nem porque, o sujeito planeja fria e milimetricamente uma carnificina, arma-se como que combatente de milícia sangrenta, adentra em uma escola (a sua ex-escola, ressalte-se) e mata mais de dezena de crianças e adolescentes indefesos.

Para a posteridade deixa uma carta com idéias desconexas, malucas, de uma confusão assustadora.

Aí surgem na mídia os comentários de “experts” na conduta e no comportamento humano. De modo genérico, vamos alguns deles:

“ – A escola, e em especial os professores, tem que tomar uma atitude para detectar estes jovens potenciais homicidas, uma vez que eles se escondem no mutismo forçado diante das agressões dos ‘colegas de turma’”...

“ – O professor tem que estar atento a estes jovens introvertidos demais, de comportamento estranho, que subterraneamente acumulam uma ira contra tudo e contra todos que pode desembocar em chacinas de inocentes...

“– É necessário que os professores sejam aptos a lidar com as situações de bullying, orientando, advertindo e educando seus alunos em prol de uma cultura de paz...”

Pois bem, residem nestes comentários uma condenação injusta: o professor acaba por ser, também, culpado! E esta condenação sem direito de defesa e do contraditório é estúpida.

Será que estes “especialistas” sabem o que “enfrentar” uma turma de alunos nos dias atuais. Parece que não?

Nas escolas das áreas nobres, ou da periferia, o retrato é semelhante com turmas abarrotadas de alunos (40, 50, 60... em uma única sala!), parcela deles indisciplinados, parte vindos de famílias desestruturadas, alguns agressivos, atrevidos no mau sentido, sem nenhuma noção o respeito mútuo o qual deveriam aprender, também e talvez principalmente, fora da sala de aula.

E aí, no final da linha de produção de uma sociedade doente, está o professor. E é sobre ele que recai toda esta pesada carga de lidar com estas crianças e adolescentes (já não bastassem os salários defasados, as condições estruturais por vezes lastimáveis, a baixa auto-estima e a cobrança por parte de seus superiores hierárquicos).

O professor tem que estudar, planejar e dar aulas, ser pai e mãe, ser mal remunerado e, além de tudo, super-herói para lutar contra a argumentação pequena de que o jovem que comete o ato absurdo de matar aleatoriamente meninos e meninas poderia ter sido contido, se ele – o professor – (e a escola) não tivesse falhado.

Ora, deixemos de hipocrisia!

O professor não é o culpado! Ele é vítima também!

Vítima por ter que educar filhos por vezes mal educados por pais e mães ausentes, oriundos de comunidades desassistidas de opções de cultura, lazer e esporte, sedentos de atenção e ocupação à altura das inquietações naturais em suas idades.

O professor deve estar atento e deve atuar nesta frente sim, em especial contra o bullying. Mas, enquanto sociede, ou enquanto pais e mães, não podemos eximir nossa parcela de culpa neste caos.

Estou ficando velho, ou melhor, menos novo. Na minha época, ser professor era ter autoridade e ser visto como exemplo, respeitabilíssimo. Hoje, neste contexto de má educação doméstica e decadente estrutura familiar e social, ser professor é ser alvo de desmoralização, de agressões e assédios físicos e morais, de gestos prejudicialmente desafiadores por partes do alunado.

Valorizemos a docência e ampliemos o debate.

Antes de responsabilizar em parte o professor (e a escola) pelo aluno humilhado que se tornou assassino em massa, admitemos neste julgamento a culpa de nossa sociedade inerte, de nossa educação em pedaços, de nossa paternidade e maternidade frouxa de pulso e de nosso descaso com os valores de irmandade que devem nos reger no mundo.

E construamos esta visão de mundo em nossas crianças e jovens, principalmente, no ambiente exterior aos muros das unidades de ensino.

Até mesmo porque dentro delas os professores já buscam fazer isso. E ainda fazem muito mais.

 

 

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