Foi inesquecível!

Nesta semana, de volta a Pavia, Itália, finalmente pude conhecê-lo.

Em pessoa, mito mas humilde e acessível, humano e dotado de sensibilidade ímpar.

Giovanni Conso, 95 anos.

Lúcido, articulado, valoroso, abriu com brilho o seminário onde se homenageava aquele que deu à Università degli Studi di Pavia não somente os seus próprios melhores, mas sim todos os seus anos de radiosa existência: Vittorio Grevi.

A aula magna ou a sala principal do colégio Ghisglieri ficou pequena, apertada, minúscula para comportar tamanha intelectualidade, saber e simplicidade.

Ao seu lado, Glauco Giostra, o professor da Universidade La Sapienza de Roma que de discípulo de Conso e Grevi se agigantou ao ponto de sinalizar que o futuro certamente lhe reservará um lugar de grandeza. Dando continuidade a uma estrela que lhe é inerente já no hoje.

Mas sem se esquecer de que de futuro não teria não fosse a sabedoria, sagacidade, serenidade, paciência e amizade de Vittorio.

Vittorio Grevi, professor orientador de meu doutoramento em Pavia, morreu em 4 de dezembro de 2010. Se foi de morte natural e fulminante, daquelas injustas e sem direito de defesa.

Um homem de valor não morre nunca”, disse eu a Giostra. Assim que ele me viu, imediatamente se recordou da noite em que fui gentilmente a ele apresentado por Grevi como “professor brasileiro de Alagoas”.

Cumprimentamo-nos e ele sorriu dizendo “ele não poderia ter feito isso com a gente”, em um italiano harmônico que soou como uma ironia ao velho e grande amigo.

Com sua morte Grevi deixou órfãos de sua cultura discípulos por todo o mundo. Inclusive um em Maceió.

Na triste ocasião de sua passagem dediquei a ele um post deste blog. Escrevi:

“Em 4 de dezembro o conhecimento mundial, em especial no mundo jurídico, ficou órfão: morria o professor Vittorio Grevi, muito mais que meu tutor no PhD que faço na Itália. Morria Vittorio Grevi, referência global no pensamento do direito, bastião da Universidade de Pavia, renomado centro de estudos situado na região da Lombardia. Morria Vittorio Grevi, mágico ao combinar as facetas de docente e de aprendiz na universidade da Vida.

Vittorio Grevi era e é um daqueles professores que não deveriam morrer e que não morrerão nunca. E todos nós acreditávamos e acreditamos nisso. Sua força vigorosa aos 68 anos, ao comandar congressos, seminários, escrever artigos, livros... ser um dos correspondentes do “Corriere della Sera” em uma coluna diária, ministrar aulas, orientar teses doutorais... falar do futebol de sua Juventus, rir, brincar, amar e viver... comparecer diariamente das 9 às 21 horas na Universidade... são mais que exemplos de dedicação, de profissão de fé e de ética que sempre levarei comigo.

Grevi era metódico, sem ser pernóstico. Sistemático, sendo elegante. Preciso, e sempre fraterno. Exigente com seus orientandos, afetuoso com nossas falhas, rigoroso em germinar crescimentos pessoais e intelectuais. Sempre nos indicava o caminho para uma pesquisa profunda, séria, imparcial e reveladora. Para todo e qualquer assunto lá vinha ele, sempre bem alinhado, cavalheiro, com um artigo, um estudo, um livro, uma revista para o debate e um estímulo para o estudo”.

O choro incontido de muitos que presenciaram nesta homenagem a projeção de fotos de Vittorio Grevi em um enorme telão, nas mais variadas atividades da universidade, aumentou o tom melancólico, mas respeitoso daquela “serata”.

Ao final, efusivos aplausos em homenagem àquele que fez da vida de muitos a sua. Que imprimiu sua marca em centenas de estudantes e intelectuais, dos quais tenho a honra e o privilégio de ter sido um.

Como se diz em italiano: “Una gioia averlo conosciuto”.

 

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