O título é para irritar os racialistas. Afinal de contas, eles baseiam grande parte de sua argumentação (em favor de ações afirmativas baseadas em critérios raciais) na ideia de que o Brasil assiste praticamente a um apartheid. A recente e absurda entrevista do deputado amalucado Jair Bolsonaro deu aos racialistas o que eles mais gostam, um inimigo público para chamar de seu.

Com esse inimigo, agora fazem uma guerra santa e andam cobrando explicações de Ali Kamel, que escreveu o livro com o título do texto: “Não somos racistas”. O livro prova que a premissa de que somos um país racista é mentirosa.

O problema de muitos racialistas é que eles sequer leram o livro. Mas eu explico o argumento essencial. O livro é simples. Entre outras coisas, ele analisa estatísticas e dados oficiais para mostrar que não há qualquer prova de que negros pobres tenham mais dificuldade de melhorar de vida do que brancos pobres. Sendo assim, o abismo entre brancos, pretos e pardos é um abismo social e não racial. Além disso, demonstra que nosso racismo é bem menos enfático do que o dos EUA, por exemplo, que insistiram durante muito tempo em políticas de segregação e, depois, em ações afirmativas.

Ademais, o livro destaca uma crueldade que está em curso pelas mãos dos racialistas. Para encaixar a teoria do apartheid no Brasil, eles dão a entender que os mestiços não existem. Assim, todas as estatísticas procuram apresentar a nossa sociedade nos moldes de uma nação bicolor. O pardo, portanto, torna-se negro, podendo-se falar simplesmente em “negros e brancos”.

As políticas de ação afirmativa baseadas na raça encontram forte oposição na opinião pública brasileira justamente porque elas se confrontam com uma realidade. Somos menos racistas do que os americanos e, além disso, temos dificuldades em nos reconhecer como membros de uma raça. Somos mestiços!

Essa percepção de que somos uma nação mestiça, que nos coloca à frente dos países que se dizem “multirraciais”, está sendo atacada por todos os meios pelos racialistas defensores de critérios raciais para a concessão de benefícios sociais. Até Gilberto Freyre recebe paulada da turma.

Dizer, portanto, que não somos racistas, não significa negar os nossos episódicos caso de racismo que, na nossa sociedade, são respondidos com imediata indignação e desconforto pela maioria da população brasileira. Vejamos o caso de Bolsonaro. Não só o caso gerou imediata indignação, quanto foi exibido num programa de humor. As declarações de Bolsonaro não têm qualquer razoabilidade na sociedade brasileira.

Nosso racismo, portanto, nem de longe, pode ser considerado sistemático e é isso que o livro prova, para desespero dos racialistas.

Por tudo isso, recomendo a leitura.