Mulherengo cobiçador de mulher alheia, biriteiro rebuscado, afoito e enfático, malandro, metido a agiota (quando tinha mais de R$ 50 na carteira só emprestava “a juro”), mal pagador, sem vergonha e dotado da inteligência de uma catenga (sem ofender estes bravos répteis), Nequinho da Guia queria voltar à política. Se achava injustiçado!

Tinha sido vereador na década de 90 por uma coincidência do destino. Era o quinto suplente e o titular eleito morreu de enfarto. O primeiro suplente renunciou ao mandato. O segundo, pediu licença para tratamento de saúde. O quarto virou secretário do município (à força!) e assim ele, o número 5, tornou-se parlamentar da cidadezinha de pouco mais de 4 mil habitantes.

Foram somente 3 meses na Casa Legislativa. Embora achasse que sua votação estrondosa de 26 votos o habilitasse a um mandato mais vigoroso e extenso. Na Câmara, apresentou projeto mudando nome de rua, propôs CPI contra o prefeito, fez sessão solene, sessão fúnebre, audiência pública e privada... Não podia, mas contratou parentada completa para assessoramento.

Pediu audiência com governador e até com presidente da República. Mandou ofício para a ONU e criticou na tribuna da Casa “as atrocidades da Guerra da Bósnia” enviando memorial de apoio ao povo do leste europeu. Prometeu “casa e terreno de graça ao povo”, cesta básica e exame, fez cadastro de compra de voto, desviava verba do gabinete para suas “reuniões” na casa da Mãe Zuza, meretrício mais famoso da região.

Neste ano 2011, saudoso do parlamento (e das falcatruas que cometia na Câmara) tinha que se articular para voltar à vereança. E teve uma idéia espetacular. Seria na cidade e na região um dos defensores da Lei Ficha Limpa.

Sem processo nas costas – a não ser o nome na SERASA e no SPC, nas cadernetas de fiado de cachaça não paga no Bar do Cleto e de “menina nova alisada” na Mãe Zuza, o empréstimo consignado e alvo de calote em nome da mãe aposentada pelo Estatuto do Idoso, as 7 pensões alimentícias em atraso dos filhos fora do casamento... – seria um defensor da moralidade e da probidade no município.

Montou comitê de “Ética na Política” na praça central. Fazia comício na Kombi 82 com sistema de som e adesivada com sua linda cara amassada. Cantava o hino e dizia que “político limpinho, só o Nequinho”. Denunciava toda e qualquer tirineta da oposição e dos opositores. No corpo a corpo com o eleitorado, para impressionar dizia que a sua ficha “era insípida, incolor e inodora”, termos que decorara ao assistir o Telecurso de Ciências.

Pois bem, no dia da votação final da Lei no STF Nequinho não podia fazer feio. Seria sua apoteose. Colou o telão de “prasma” na Kombi, puxou um “gato” do poste da TV a cabo, arrumou emprestado uns 50 tamboretes, pôs umas 10 faixas na cidade. Prometeu “grande mobilização em prol da dignidade, da ética e da cidadania: transmissão ao vivo do voto no ministro Luiz Fux sobre a Ficha Limpa”.

Na manhã do julgamento o candidato armou o circo na praça. Foi no Cleto e pediu “reforço no goró”, já que iria comemorar a “vitória da cidadania” com a aprovação da Ficha Limpa para 2010. Como o dia era especial, biritou somente Montilla: umas 3 garrafas com agulhinha frita e tripa assada.

De tarde, foi à praça. Tudo lá montado. O julgamento se desenrolando e o ministro votando. A praça tinha umas 20 pessoas, sobrava tamborete. Nequinho chegou meio “bambo”, altamente alcoolizado, e a cada palavra do ministro “entronchava” a cara. O julgamento se desdobrava e os cerca de 20 presentes diminuíram para uns 15, uns 10, uns 5, uns 3, uns dois... ao final do julgamento, Lei valendo só para 2012, local vazio. Ninguém dava bola. Sobrou somente o herói candidato, verde de etanol.

Quando a TV Justiça anunciou o resultado, Nequinho se desesperou. E agora, que seria de sua “bandeira de luta pela moralidade”?????????????

O sonho acabou!

Pegou o microfone e fez discurso para eleitor fantasma:

– “Magote” de cabra safado! Limpinho, só o Nequinho! “Ói”, mudei de idéia. A cidade vai ter que aceitar, mas agora não abro mão. Vou renunciar à candidatura à Câmara e vou falar com a Dilma. Vou colocar meu nome à disposição para a próxima vaga no STF. Tenho dito. Limpinho, só o Nequinho! E este “Fúquis” .... que se “´Fúqui”.