Esguio, um pouco careca, cara de maracujá espinhoso, se é que existe.

“Fraco de feição”, como diria.

Barriga avantajada, a la Genival Lacerda. Bigode “latin lover”, figurino Agostinho Carrara da Grande Família.

Nome, Orestes Coelho.

Profissão: garanhão pai de 30.

Sim, 30, tinha trinta filhos.

Achava-se o próprio Dom Juan de Marco.

Mas a façanha era inexplicável. Como um ser tão “desprovido de atrativos” se dava tão bem com a mulherada?

Um ministério que intrigava a todos.

Três filhos eram de Janusa, a primeira esposa. Teve uma com Marli, costureira de madame. Com a "cabo" Gracinha, policial militar, foram mais dois. Quatro foram ao natural, só no improviso do “picote” ocasional e despretencioso. Teve também os 2 de Mafalda e os 3 de Heloísa, irmãs com que quem se relacionou, em simultâneo...

Esta a contabilidade só das “oficiais”.

Cobrador de ônibus da linha Maceió-Recife, estranhamente só tirava escala no “pinga-pinga”.

É que tinha uns rebentos em Palmares e em Escada, interior de Pernambuco.

Ao todo, meninos e meninas de 9 mulheres.

Ainda dizia para os amigos que “se prevenia”. Mas a atração era fatal e o poder reprodutor de Coelho era, sem trocadilhos, digno de um coelho. Quando chegava no Fernão Velho até o padre se encostava de “costas” na parede.

Vasectomia, nem pensar? Camisinha? “Pra que, depois de ‘pegar confiança’”.... “Pílula que nada, vai que era de farinha”. E injeção de anticoncepcional, jamais. Nunca faria as “bichinha” sentir dor e “gemer, só de prazer”.

Até que chegou no bairro com cara de interior uma morena mulata misteriosa e deliciosa. Alta, bronzeada, discreta, olhar penetrante. Hummmmmmmmm! Estonteante a gazela.

Coxas grossas, beiços grossos, seios fartos, pelos loiros e cabelos “mais negros que a asa da graúna”. Mas recatada, sisuda, respeitabilíssima.

Trabalhadora, dava duro no turno noturno em uma “clínica” no Farol. Para todos dizia-se “instrumentadora”, o que ninguém sabia ao certo o que era. Pobrezinha, dizia-se também órfã, abandonada, sofrida...

No dia da mudança da morena, Orestes estava de férias da Real Alagoas. Quando parou o caminhão e desceu aquele “monumento de mulher”, a flecha de cúpido penetrou o coração do garanhão do coletivo interestadual.

“- Muito prazer! Escárlete Iorranson da Silva”, apresentou-se a deusa ébano-greco-latina.

Só disse isso, desafiadora, com sedução latente.

Mão na mão, beijo no rosto. Foi paixão avassaladora.

E o garanhão, mais uma vez, “se deu de bem”. Seu charme comprovou-se irresistível.

Orestes queria o 31º filho. E a “morenaça” haveria de ser a mãe, sua 10ª amada e 10ª genitora de sua prole.

Ele ajudou “na muda”, carregou sofá, geladeira, botijão. E tardinha foi fazer visita de boas vindas, a inseparável toalhinha no ombro e o indispensável “flocão” debaixo do braço para alimentar bem a amada antes de ela ir “pro batente”.

Escárlete, tímida, quase muda contou a muito custo partes sintéticas de sua história, de sua vida em São Paulo, de sua temporada na Itália, na Tailândia... sim, a moça era culta, viajada, fluente.

Aí instintivamente foram beijos e carícias de fazer corar diretor de filme pornô. Amaram-se sob silêncio e em cima da capa de sofá comprada pela musa na Imperador do Centro.

Ela dizia amar o jeito “agreste” e másculo do Orestes! Ele, a sua feminilidade.

O tempo passava, um mês de amasso e sexo selvagem, sob penumbra, condição por ela exposta. E nada do 31ª “bruguelo” aparecer. Mais um outro mês. E sem “emprenhar”. No terceiro, idem, mas não foi possível.

Escárlete “continuou” de bucho vazio.

Juntaram as escovas de dente. Foram morar juntos. A “esposa” trabalhando diariamente à noite, "pegando pra valer" na “clínica”, sem permitir que o novo homem de sua vida interferisse em sua conduta profissional, privando-o até de saber o endereço de seu empregador.

Orestes, diariamente, no “pinga” da BR 101.

Perdidamente apaixonado, Coelho tentou durante uns 3 anos engravidar a amada. Porém, o 31º não prosperava.

Em contrapartida, o patrimônio dela aumentava, crescia. Afinal, "duro ela dava". E "dava" muito!

Com o dinheiro do serviço “suado” ela construiu casarão no Fernão Velho, comprou carro “do ano”... e cobrava nada do quase “marido”, liberando-o para fracionar seu salário de cobrador entre as inúmeras pensões alimentícias que já vinham descontadas no magro contracheque mensal.

O amor era tanto que o garanhão pai de 30 desencanou.

Adotaram uma menina linda, de uma mãe desconhecida lá de Jaramataia.

A criança foi batizada de Ariadna, a pedido da mãe adotiva.

Até hoje Orestes coça o bucho e tem a pulga atrás da orelha.

O que será que aconteceu?

“Macho” ele era. “Fazer” direito ele fazia.

Mas em nome do amor e das curvas da morena jambo, melhor era ter filho, de agora em diante, só postiço.